terça-feira, 18 de junho de 2013

UMA REVELAÇÃO



Há muito que tenho estado a enviar de uma forma pontual certas informações sobre assuntos relavos ao nosso querido país sem no entanto querer identificar-me. Dou a mão á palmatória por tudo isso, porque o serviço que o PN está a prestar aos guineenses deve ser acarinhado e complementado com alguma dose de estudos científicos. Chamo-me Victor João Cali, Licenciado em Geografia, Mestre em Gestão de Território, Especialista em Planeamento e Ordenamento do Território, um Técnico de Cartografia com experiência de 20 anos em Fotogrametria. Sou homem que se preocupa bastante com os problemas ambientais da Guiné-Bissau.

Sou seguidor assíduo do vosso Jovem Blogue Nacional mas de grande valor. As vossas informações sobre a segurança alimentar na Guiné-Bissau de 14 de junho e a de hoje sobre as preocupações da Indira Sayegh em relação ao crime ecológico aguçaram o meu apetite em colaborar porque as questões ambientais são mais da responsabilidade de Geógrafos.

Obrigado PN, Indira Sayegh e demais personalidades que se preocupam com a nossa casa-mãe. Se continuarmos a agredir a nossa Floresta em benefício pessoal, as próximas gerações não nos vão perdoar. Quem te avisa teu amigo é!
Vejam este meu artigo sobre os:

Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos naturais;


Os efeitos das alterações climáticas constituem hoje uma preocupação de índole internacional contudo desde a assinatura do Protocolo de Quioto a 11 de Dezembro de 1997 (Japão) em que “foram fixadas metas concretas que estabelecem onde as emissões devem ser reduzidas e o volume de tal redução: até 2012, os países da União Europeia devem diminuir suas emissões em 8% em comparação ao ano-base de 1990; os Estados Unidos, em 7% e o Japão, em 6%” (http://www.dw-world.de/dw/article; 05-10-2011).
Segundo o mesmo artigo, muitas outras conferências que se seguiram sobre este tema foram marcadas pela busca de como fugir das metas estabelecidas em 1997 por parte de muitos países industrializados com os Estados Unidos da América em primeiro lugar. Para confirmar aquela pretensão, lembrar de que a Administração dos EUA recusou-se a ratificar o documento que entrou em vigor em 2005, condicionando desta forma a não concretização do estabelecido em Quioto, segundo a mesma fonte. 

Partindo desta realidade, importa salientar que os países mais pobres e em particular os da sub-região em que a Guiné-Bissau se insere, são os mais atingidos uma vez que os seus recursos naturais endógenos ou exógenos não estão a ser bem explorados nem bem geridos para o benefício de todos, tudo por falta de equipamentos e conhecimentos tecnológicos. Sendo os recursos naturais os bens que a própria natureza disponibiliza ao homem para a satisfação das suas necessidades e que podem ser agrupados em endógenos e exógenos, nem sempre foram bem tratados de forma a garantir a saúde ambiental desses países. É bom lembrar que a intervenção do homem na transformação daquilo que a natureza lhe proporciona, entra inevitavelmente os fatores vivência, cultura, sociedade e sua história que também diferem de país para país.
Falando de países pobres como a Guiné-Bissau, a mitigação desse tipo de fenómenos naturais, requer custos insuportáveis para os cofres dos Estados, o que pode dificultar ainda mais os orçamentos desses países do terceiro mundo, com profundos problemas financeiros. Os valores do volume da precipitação expressos na seguinte figura, mostram o grau da vulnerabilidade e riscos com a seca que cada um desses países da África Ocidental pode vir a enfrentar.
           Volume da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm, 2003.


Neste âmbito, a Guiné-Bissau ainda resiste à falta de água graças ao recurso “água-doce” que abunda no litoral e da pluviosidade que se situa entre os 1500 a 2000 mm por ano. Nos países onde existem secas intensas que levam à escassez da comida e de outros bens da primeira necessidade, a tendência sempre foi no sentido do abandono do campo, onde já não existem condições para garantir a sobrevivência, rumo à cidade, à procura de melhores condições de vida. Essas migrações podem piorar os locais de acolhimento, porque quando falham as expectativas, começam as frustrações que podem traduzir-se na exclusão social e às formas de comportamento marginal (delinquência, prostituição, assaltos ou outras práticas não recomendáveis). Muitas cidades da nossa sub-região já enfrentam esta realidade onde, em cada dia que passa, se assiste à proliferação dos sem-abrigo, ao aumento de ilhas de pobreza extrema, à criminalidade e ao crescimento descontrolável dos Bairros de lata etc. 

A forma natural como foi feita a distribuição da população em todo território guineense é ainda bem visível, porque baseou-se na constante busca de boas terras que garantam a produtividade. Para além de muitos outros fatores, já se notam algumas alterações no coberto florestal em certas regiões do interior, alguns rios secam por completo durante a estação seca do ano. As migrações sazonais aumentaram abrangendo muitas etnias, para além do tradicional nomadismo do grupo fula. Contudo, assim que começa a estação das chuvas, muitos tendem a voltar para os lugares de origem a fim de se ocuparem das suas terras. Sabe-se no entanto, que muitos acabam por fixar a sua residência na cidade com espectativas de ali encontrar novas e melhores condições de vida. Esta prática fez disparar a taxa da população urbana em Bissau, Bafatá e Gabu nos últimos anos, para além das repercuções sentidas com a liberalização do comércio e a integração do país na UEMOA em 1997, que aumentou a invasão estrangeira no cumprimento das obrigações de um espaço comunitário”.  

           Cuidado com a devasta das nossas florestas porque com a natureza não se brinca. A savana já domina o nosso território e o Sahel há muito que está a nossa espreita sem piedade. 

 VICTOR JOÃO CALI  
Email: calivj04@gmail.com