segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

OPINIÃO: ENTRE ALEGRIA E TRISTEZA NA HOSPEDAGEM



    Toda opinião aqui dada foram as minhas simples observações. O quanto isto pode repercutir, a responsabilidade cabe a mim; por isso, peço desculpa ao leitor deste artigo pelas abordagens que poderão advir.

“Entre alegria e tristeza na hospedagem”

      A vida é como um palco. Você afasta as cortinas e vê os dramas, as lutas, os conflitos e a procura incessante de novos horizontes.
Há gentes que sonham, anseiam e trabalham para encontrar um lugar ao sol. Muitos nascem, envelhecem e morrem sem chegar ao porto desejado. Alguns não sabem sequer de onde vêm ou para onde vão. Mas o menino africano é cheio do espírito negro de rever uma África de homens e mulheres capazes de escavar o desenvolvimento no seu fértil solo. A nossa esperança mante-se inabalável em ver uma nova África prospera e feliz no rosto das nossas crianças.
     Falar do Brasil nada mais, nada menos do que rever o passado histórico que o unia com a África. Um país que a sua descoberta ocorreu no período das grandes navegações europeias, onde o Portugal e a Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras.
No inicio do século XV, chegava ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. Momento marcava o primeiro contato dos navegadores portugueses com as terras indígenas, hoje o Brasil.
Dada às ameaças e a crise que a Europa enfrentava na época, a partir de 1530, com a expedição organizada por Martin Afonso de Souza, que a coroa portuguesa começou a interessar-se pela colonização da nova terra.
     A ocupação dos portugueses nas terras indígenas durou quase cinco séculos, implementando na época a lavoura açucareira na colônia que se iniciou com o uso extensivo da mão-de-obra Indígena. A escravidão dos aborígines foi um momento fugaz na história da agricultura colonial de exportação do Nordeste. A transição da predominância indígena para a africana na composição da força de trabalho escrava ocorreu aos poucos ao longo de aproximadamente meio século. Essa mudança dependeu parcialmente da percepção dos portugueses quanto às habilidades relativas de africanos e indígenas.
     De recordar que antes da descoberta do Brasil, portugueses já tinham estabelecidos contatos com territórios africanos há mais de meio século. Na metade do século XV, o primeiro cargueiro português de escravos partiu da antiga senegambia para ilhas de cabo-verde e posteriormente para o resto de mundo.
A este propósito, em finais do século XV, a habilidade africana em dominar as técnicas do fabrico do açúcar na Madeira e em São Tomé e Príncipe, já havia impressionado os portugueses. No Brasil, os colonizadores, há tempos habituados ao emprego, em Portugal e nas ilhas atlânticas, de negros em serviços domésticos, como artesãos urbanos e escravos especializados, começam a pensar na África como uma fonte lógica de homens com tais aptidões. Os primeiros cativeiros negros vieram para o Brasil como criados particulares ou trabalhadores especializados, e não para lavrar os campos. Na região baiana, podemos tomar em consideração a grande transformação da população de um único engenho ao longo do tempo.
Em 1572, o Engenho Sergipe possuía 280 escravos adultos, dos quais apenas 20 eram africanos. Em 1591, a população cativa do engenho era de 103 indivíduos, 38 deles eram africanos. Em 1638, quando a propriedade foi arrendada a Pedro Gonçalves Matos, havia 81 escravos, todos eles africanos. Essa mudança justifica momentos crescentes da presença africana no Brasil, principalmente no nordeste.
     São Francisco do Conde, terceiro município do Recôncavo é a marca da presença africana no nordeste, tendo guardado um grande patrimônio do Brasil colonial. Através dos sobrados, igrejas, engenhos construídos durante administração portuguesa podemos testemunhar a mão-de-obra africana.
Com abolição da escravatura e o retorno de alguns africanos às suas terras de origem, a cidade de São Francisco do Conde desuniu o seu contato direto com o povo africano, mas continuam ainda unidas através da história e da cultura.
     Passado um pouco mais de dois séculos, através da UNILAB, numa parceria firmada com PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) a cidade recebeu o primeiro grupo de estudantes africanos. Literalmente, o ato servia de reencontro da família negra. Mas nem por isso, a presença da comunidade africana no município foi um susto, suscitando muitas especulações. Alguns citadinos qualificavam o grupo dos seus jeitos, uns consideravam de refugiados e doentes. Apesar disso, a maior parte interagiu com o grupo para colher a verdadeira história do continente africano.
     Duas semanas depois da chegada, o grupo promoveu a primeira atividade da integração, a efeméride coincidia com os vinte e cinco de maio, Dia da África. A dança tradicional e a gastronomia africana marcaram momentos mais altos do evento. A primeira palestra sobre África no quotidiano servia de um ponto de partida de um processo de descolonização das imaginações presas pelo passado. O evento juntou a direção da UNILAB, professores e a população local.
     Nada obstante, permanecem ainda algumas dúvidas sobre a estadia dos estudantes estrangeiros na cidade. No seu discurso da cerimónia da inauguração da faculdade, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio da Silva “LULA” afirma que “o Brasil tem a divida com África... a UNILAB surge como forma de pagar essa divida”. De modo específico cabe à prefeitura assumir esse desafio. Os nossos ouvidos abiscoitaram que a “prefeitura traz os africanos dando lhes faculdade, pagando alimentação e o alojamento”.
Sobre esta dúvida remanescente, importa sublinhar que antes da vinda dos estudantes, tudo estava acordado nas embaixadas locais, que cada família de estudante terá que suportar financeiramente a estadia do seu educando. O que a prefeitura está a fazer aos estudantes africanos é um dever na minha modesta opinião.
     Depois dos três meses em alojamento sob custódia da prefeitura, cada estudante era obrigado procurar o seu imóvel para morar. De uma forma despropositada, os alugueres servirão de estratégias da integração. A comunidade esta espalhada um pouco por todos os bairros do município. Desde Baixa Fria, entrada da cidade até a Pitangueira.
     Como é obvio as dificuldades sempre acompanham o homem em sua vida cotidiana. As aulas em todos os dois trimestres foram marcadas de muitas dificuldades, dentre quais, o maior problema se prendia com a língua portuguesa. Todos são falantes da mesma língua, enquanto língua oficial nos países africanos, mas que no Brasil sofria algumas variações, algumas palavras eram vistas como desconhecidas para os estrangeiros. Mesmo assim, a língua serviu de via viável e facilitadora da inserção da comunidade africana.
     Concernente à segurança da integridade física dos nossos compatriotas, tudo a esta quem desejar. Uma das nossas meninas foi saqueada e roubada celular sem uma resposta positiva por parte da autoridade local. Outra preocupação do grupo é face ao aumento galopante dos preços dos alugueres de casas. Um imóvel que custava 400,00 reais passa já para 500,00 ou 600,00 reais, porque a cidade receberá novos estudantes. O argumento se assenta na vinda de novos estudantes.
         A maturidade político-social e associativa de estudantes estrangeiros foi demonstrada na criação do seu corpo representativo juridicamente. A associação recém-criada se assentará em defesa e na união dos seus membros.
     Em suma, o presente ano foi um ano negro pela comunidade. O grupo foi abalado nos últimos dias com as trágicas notícias dos desaparecimentos físicos de familiares dos nossos conterrâneos. Os dois colegas perderam pais e um perdeu a mãe. As lágrimas fecharam ano letivo.

Neemias António Nanque