quinta-feira, 12 de março de 2015

OPINIÃO: SERÁ QUE A GUINÉ-BISSAU JÁ ENCONTROU O NOVO MESSIAS

Um dia desses, na minha habitual inspiração (virtude do espírito artístico), passou-me pela mente esta frase: 
 
Qualquer povo merece um Messias (salvador).


Esta efémera frase desabrochou no artigo que estou apresentando, tentando, através de análises, compreender se a Guiné-Bissau realmente já encontrou o seu verdadeiro Messias.

 
Com todo o respeito pela religião e como religioso, acredito que cada Nação, cada povo no mundo, merece um salvador, daí a necessidade e pertinência da pergunta acima referenciada.
A Guiné-Bissau, no concerto das nações do mundo, dispensa apresentação no que tange aos atropelos a ordem constitucional, aos desmandos políticos e militares, as instabilidades políticas crónicas, violações constantes dos direitos humanos, a pobreza, a fome, a corrupção, etc… nos poucos muitos anos da (in)dependência nacional, o povo vem aclamando por um salvador, uma figura sem manchas, nem nódoas, que poderá definitivamente libertar este povo martirizado.

Do nascimento deste país nas matas de Madina de Boé até hoje passaram muitos governantes e, aos olhos do povo, nenhum deles pode ou deve ser considerado “messias”, porque a veracidade dos fatos leva-nos a crer que a Guiné-Bissau nunca foi independente. Libertou-se da opressão colonial e mergulhou-se na repressão nacional; tornou-se escravo do seu próprio destino, prisioneiro dos seus filhos pródigos, por razões várias.

Desde 24 de Setembro de 1973 até hoje, quem efectivamente exerce o poder real na Guiné-Bissau são os “Djintons”* das Forças Armadas. O poder nunca saiu dos quartéis. Senão vejamos:

• A Guiné-Bissau enquanto Estado nasceu através duma revolução armada, é a força armada quem criou o Estado da Guiné-Bissau e não o contrário, por isso sempre houve uma impossibilidade em desassociar o Estado das forças armadas, o Estado do Partido guerrilheiro que o criou (a bandeira diz tudo);

• Depois da (in)dependência o país foi dirigido pelas pessoas com filosofia revolucionária, pelos senhores da guerra, pelos responsáveis da guerrilha e do partido único;

• O golpe de Estado de 1980 veio agravar a confusão dessas duas realidades, uma vez que o destino do país passou para as mãos de um verdadeiro chefe de guerrilha;

• O 07 de Junho de 1998 veio a camuflar a realidade dos fatos, passamos a viver uma ditadura militar camuflada com o véu da democracia. Se com o Nino Vieira o poder formal e o poder material estavam na mesma pessoa, que era um militar temido e respeitado, depois de 07 de Junho, o poder material foi parar nos quartéis, nas mãos dos senhores da Junta Militar, que destronou o João Bernardo Vieira através de um golpe de Estado, deixando o poder civil apenas com a aparência do poder. E assim vai sucedendo sucessivamente sem parar, golpes após golpes ao poder real (com Ansumane Mané, Veríssimo Correia Seabra, Tagme Na Wai, Zamora Induta e Antonio Indjai). Essas figuras são os verdadeiros chefes de estados e não o Kumba Yalá, o Henrique Rosa, o Malam Bacai, o Reimundo/Cadogo ou Serifo Nhamadjo. Pode-se questionar sobre a era pós 07 de Junho em que o Nino Vieira voltou ao poder, mas é óbvio que nesta altura, ele já estava despido do poder real, era o chefe das forças armadas quem detinha o poder real (Tagme Na Wai).
Feita esta pequena análise, questiona-se:

- Será que o país já conseguiu a sua verdadeira independência?

- Será que, com a exoneração e nomeação do novo Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, o poder real sairá dos quartéis para a presidência?

- Será que já libertamos das constantes instabilidades políticas e estamos caminhando para um desenvolvimento sustentável?

- Será que, se as respostas anteriores forem positivas, podemos considerar que esta Nação já encontrou o seu verdadeiro messias?

Acredito que é prematuro responder estas questões, ainda mais que este país e os seus sucessivos dirigentes têm a mania de surpreender pela negativa. O sentimento que paira dentro do povo, neste momento, é de solidariedade com os atuais governantes, alias, esta era a mesma solidariedade pós 07 de Junho, contudo os indicadores posteriores foram catastróficos.

Eu sinto que o povo acredita, ainda que com algumas reticências, que os atuais governantes poderão ser o messias, os salvadores da pátria, mas é convém realçar que “o verdadeiro líder, verdadeiro messias é aquele que é capaz de tomar decisões difíceis em circunstâncias dificílimos”; 
 
O povo não precisa de “salvador falador”, mas sim “salvador cumpridor”, que faz milagres aos olhos do povo. Os dirigentes têm que estar na altura de colocar não só as mãos, assim como os pés dentro da lama (miti mon na lama-palavras do atual Presidente) sem luvas, mesmo quando existe sanguessugas, escorpiões e lagartos dentro da lama.

É prematuro avaliar como eu disse atrás, mas o certo é que existe um certo sentimento nacional de esperança e claro, existe alguns sinais encorajadores, mas o mais que certo também é que estamos muito longe do almejado. 
 
Muda-se aparelhagem bate a mesma musica, porque os discos são os mesmos:
• Nomeações desnecessárias e sem critérios de qualidade fadadas com o clientelismo, estratégias políticas somíticas, amiguismo, etnicismo e sobretudo por laços familiares;

• Estamos vivendo uma democracia sem oposição e sem opositores;

• Os problemas das FARP (Forças Armadas “Repressores” do Povo) ainda por resolver e a presença da ECOMIB por definir;

• A corrupção, a impunidade, irresponsabilidade na gestão de coisa pública, a injustiça, emigração forçada de vários políticos;

• O fenômeno de convulsões interna, que está se desenhando, no seio do partido no poder e no maior partido da oposição;

• Desavenças pessoais entre os diferentes responsáveis dos órgãos de Estados que as vezes acaba por traduzir-se na instabilidade política;

Estes seis pontos (poderiam ser 20 ou 1000) podem levar-nos a pensar que o cenário que se desenha e que se avizinha, poderá pôr em causa uma resposta positiva ao tema deste artigo, principalmente o último ponto, considerando a especulação de crise entre o Presidente, o Primeiro-ministro e o Presidente de Assembleia Nacional Popular. Mas tudo não depende apenas da capa do livro, não depende apenas da camisa que se decide vestir, mas sim da personagem que se pretende encarnar (ou Salvador, ou Judas ou Pôncio Pilatos!).

Segundo diz o falecido Dom Settímio Arturo Ferrazzeta “a verdade vos libertará”, enquanto fugimos dela continuaremos sempre prisoneiros do nosso destino.
Autoria:
Lesmes M. F. Monteiro