domingo, 22 de novembro de 2015

OPINIÃO: ALERTA SOBRE A DEMISSÃO DO PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA

Senhor Editor do Progresso Nacional

Por esta venho agradecer a atenção com que tem seguido e alertado o povo guineense e toda a comunidade internacional da intenção deliberada do Presidente da República em provocar a instabilidade no país. Eu próprio havia feito a denúncia da intenção do PR em demitir o Procurador Gera da República, em artigo que teve a amabilidade de publicar em Outubro passado e que, pela sua relevância agradecia mandar reeditar para que os guineenses possam comparar, a previsão aos factos.

Queria sugerir que se lançasse no seu blogue uma descrição cronológica deste ano e meio de mandato do Presidente da República.

Penso importante propor e realizar um trabalho jornalístico sério de compilação de todos os feitos e defeitos deste presidente, para que a memória não nos atraiçoe e algum dia alguém se esqueça do que temos vivido.

1. Em Setembro de 2014, antecipando-se a um processo que estava a ser bem conduzido pelo governo, o Presidente exonera o General António Indjai. Mais tarde tenta imputar essa decisão ao governo.

2.  Em Novembro exonera o Ministro do Interior Botche Cande, apesar deste ter provado realizar a missão à fronteira por indicação e coordenação do próprio Presidente da República. Para preencher essa vaga, recusa todas as propostas do governo até se aceitar a sua escolha. Pelo meio vai prometendo nomeações e mentindo a todos;

3. Em Dezembro, antecipa a mensagem de novo ano para proferir acusações de corrupção contra o governo - essa era a sua prenda de Novo ano;

4. Em Janeiro de 2015, ignora a celebração em Tite do aniversário do início da luta armada e manda dizer que cancelou a presença por descobrir a existência de um atentado à sua segurança;
 
5. Em Março monta toda uma cena para assistir à Conferência da Mesa Redonda que abandona logo após a sessão de abertura. Vai a Lisboa de forma precipitada e, não conseguindo a audiência imediata que queria com o Presidente Cavaco Silva, preenche o espaço falando com empresários do seu convencimento de que o país não está preparado para receber investimentos;

6. Em Abril, lança os rumores (não tanto rumores pois partilhados com a Comunidade Internacional e algumas entidades nacionais) sobre a probabilidade de demissão do governo. Entre recusas e mais acusações, vai cumprir o prometido só em Agosto;

7. Final de Maio foi o período do descalabro com a visita do Rei: Exclusão do Representante da União Africana da lista de convidados, mudança do palácio, colocação da bandeira de Marrocos no palácio da República, retirada da estrela negra na Praça de Herois Nacionais, reconhecimento da Soberania de Marrocos sobre o Sahara Ocidental, etc, etc, etc

8. Entre Maio e Julho, convida sucessivamente, o sector privado, a Banca, os sindicatos, a sociedade civil para proferir acusações contra o governo. Até o relatório do FMI é distorcido para reflectir a saga de acusações contra o governo;

9. 4 Julho - Discurso na ANP, na qual acusa a todos de mentirem sobre a sua pretensão de demitir o governo. Tudo não passava de rumores infundados;

10. 3 de Agosto - Ignora a celebração do 3 de Agosto;

11. 12 de Agosto - decreto de demissão do governo. Saga de disparates e a imposição de 60 dias sem governo;

12. Outubro - Formação de governo ignorando dois postos chave sem justificação de tal medida;

13. Contactado pela Comissão de Inquérito parlamentar, nega a comparecer nem recebe a Comissão e afirma em carta não se lembrar de ter acusado o Primeiro-ministro demitido e o governo de corrupção;

14. Novembro - Exonerações intempestivas e completamente inusitadas do Procurador Geral e do Presidente do Tribunal de Contas por não seguirem orientações do Presidente da República. Substituição por pessoas claramente menos competentes e sobretudo menos idóneas.

É importante questionar o que quer de facto este Presidente. Até aonde irá esticar a paciência e sensibilidade de todos. Porque é que parece interessado em provocar a instabilidade. O que é que tem a esconder de tão grave que até o conflito lhe parece aceitável. É exclusivamente por causa do passado feito de aproveitamentos indevidos ou, a vontade de governar em ditadura?

Até quando a sociedade irá contemplar impávido e sereno esta descida aos infernos. Qual o mecanismo constitucional e democrático para travar esta deriva feita de abuso de poder e de todos os direitos civis?

Havendo necessidade, todos podemos ajudar na eventual contratação de entidades independentes e credíveis para essa crónica de ano e meio de desmando do Presidnete JOMAV a favor do chaos e do conflito.
J. Marques Correia