O
PUSD deu uma Conferência de Imprensa na Quarta-Feira, na sua sede em
Bissau, para fazer o balanço da campanha eleitoral, com a presença de
vários órgãos de comunicação social, com especial destaque ao nível das
rádios. Julgamos importante fazer aqui um pequeno resumo, pois as
notícias que foram surgindo na rádio e nos blogues foram de caráter
muito particular, referindo por vezes frases isoladas do seu contexto.
A
Presidente do Partido, Carmelita Pires, relatou os resultados da
reunião da comissão política do Partido, durante a qual colocou o seu
lugar à disposição, reconhecendo que, mal grado todos os esforços
desenvolvidos, não conseguiu passar a mensagem para o eleitorado,
atendendo aos resultados publicados pela Comissão Nacional de Eleições.
Realmente, com excepção da Diáspora (onde sabemos que o PUSD, mesmo
estando impedido de concorrer por decisão arbitrária do Presidente do
Supremo Tribunal de Justiça, recolheu um número bastante significativo
de intenções de voto), os resultados foram decepcionantes a nível
interno, onde a visibilidade é um factor essencial junto das massas. E
essa visibilidade depende muito da disponibilidade de meios financeiros,
que o PUSD, não conseguiria em tempo útil mobilizar.
Faltou
o cumprimento da Lei, quanto ao financiamento pelo Estado dos pequenos
partidos: pena que nestas eleições, que ficaram externamente conhecidas,
por piada, como eleições «Gucci», os responsáveis não se tenham
preocupado em garantir as condições mínimas a todos os partidos
candidatos, alimentando a diversidade do debate. Durante a campanha, o
PUSD deparou-se com fortes limitações em termos de logística e de
material de campanha. O resultado não poderia deixar de ser a
perpetuação de um bipartidarismo tenso, sem verdadeira alternância
democrática, que parece não oferecer qualquer saída ao país. Se a Lei
não foi cumprida activamente, também o não foi passivamente, pois,
apesar dos avisos feitos pelo PUSD em relação às fontes de financiamento
dos partidos maioritários, nada foi feito para fiscalizar eventuais
abusos.
A
Comissão Política do PUSD, chamada a pronunciar-se, deliberou no
entanto, por unanimidade, recusar o pedido de demissão e reconduzir
Carmelita Pires à frente dos destinos do Partido, lembrando que há bem
pouco tempo o Partido estava esquecido e que, apesar de resultados
eleitorais aparentemente pouco favoráveis, se considera bastante
positiva a visibilidade obtida para o Partido e respetiva receção, nos
vários meios de comunicação e blogosfera, permitindo antever um futuro
promissor, em termos de intervenção na sociedade guineense.
A
Presidente do Partido continuou em seguida destacando alguns pontos da
campanha eleitoral que considerou positivos, em termos de reflexão. A
esse título, lembrou as palavras de ordem do PUSD: Ordem &
Organização; Rigor & Responsabilidade, Capacidade & Competência
& Consistência. Considerou de forma bastante positiva as suas
participações nos vários debates decorridos durante a campanha (dos
quais alguns podem ser ouvidos recorrendo à «Partilha de Ficheiros» na
barra lateral à direita, neste blog), afirmando acreditar ter
contribuído para a elevação do nível do discurso político (por várias
vezes, ao longo da campanha, assistimos a alguns partidos e candidatos
retomarem palavras de ordem lançadas pelo PUSD em primeira mão). Realçou
ainda, como ponto alto da campanha, o apelo à unidade aos partidos
minoritários, demonstrando os custos da dispersão dos votos, devido à
divisão em círculos eleitorais e ao método de Hondt. Nesse âmbito,
Carmelita Pires defendeu a extinção dos círculos eleitorais (que
distorcem a proporcionalidade do voto: há votos que valem o dobro de
outros), bem como a abolição do método de Hondt, em eleições futuras. Um
único círculo eleitoral, como nas presidenciais, e proporcionalidade
direta na atribuição de mandatos 1% = 1 deputado, de forma a defender a
diversidade de opinião e uma participação partilhada de todos e todas, a
todos os níveis da política, para que esta não continue a ser vista
como quintal particular, mas verdadeira função coletiva. Defendemos o
Direito de Inclusão, em relação às mulheres, aos jovens, meninos e
meninas, mais velhos e mais velhas.
Na
expetativa da divulgação dos resultados definitivos, que ocorreu à
mesma hora, cumpriu à Presidente do Partido dirigir ao seu homólogo do
PAIGC felicitações pela vitória conseguida, desejando-lhe que seja capaz
de gerar os consensos necessários para conduzir a governação pelos
quatros anos que dura o mandato agora conquistado, sem interrupções, a
bem da estabilidade e progresso do país.
No
entanto, lembrou depois que este reconhecimento da vitória do PAIGC não
implica a desistência quanto ao Direito básico que assiste ao PUSD: o
de INFORMAÇÃO. Pelo que Carmelita Pires declinou, entretanto, as
afirmações do Presidente da CNE, dando por concluído o processo, sem
atender ou se pronunciar sobre as pretensões apresentadas pelo Partido
em tempo útil. É lamentável, e desmerecedor do civismo demonstrado pelo
povo guineense no processo eleitoral, que este tenha sido conduzido com o
nepotismo típico da nossa praça. A nossa campanha, cujo objetivo
principal era contribuir para o debate de uma profunda mudança de
mentalidades, foi claramente prejudicada por este tipo de limitação
quase congénita da nossa democracia.
Em
futuras eleições, haveremos de nos bater para que a esperança e a
confiança no futuro se façam desde o próprio ato eleitoral, para que não
restem qualquer dúvidas ou sombras que manchem a sua credibilidade e a
legitimidade do governo a que deve dar origem.
Urge
um debate urgente, transversal e apartidário, um vasto fórum que
congregue os guineenses num debate real para problemas atuais. Pa
lantanda nô terra!