sábado, 23 de maio de 2015

OPINIÃO: O BANQUETE DA RAINHA ESTER COM O REI ASUÉRO MARCOU A DATA COMEMORATIVA DO DIA MUNDIAL DA LIBERDADE DA IMPRENSA NA GUINÉ-BISSAU.



O passado dia 3 de Maio foi marcado como o Dia Mundial da Liberdade da Imprensa. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura em 1993. Com o propósito de alertar o mundo sobre as impunidades cometidas contra jornalistas. Na Guiné-Bissau profissionais da comunicação social foram emudecidos por jantar oferecido pelo governo.
Tem havido um casamento entre o governo dirigido por Domingos Simões Pereira e a imprensa guineense, como é óbvio, alguns tentaram se contrapor a certas atitudes dos nossos governantes, mas faltam muitas estratégias e ética profissional para se posicionar melhor e fazer um trabalho de qualidade.  O autoproclamado procurador da verdade não passa de um simples bater da chuva nos zingos de Bissau. De tanto bater há de chegar o sono.
A comunicação social tem um papel incontornável num estado de direito e democrático, mas no caso da Guiné-Bissau a história acontece de outra forma. Reconheço e admiro a qualidade e profissionalismo de alguns, em outra parte, vejo a maioria de jornalistas que no fundo não são. Estes se refugiaram na colheita e na difusão da informação como salvaguarda das suas sobrevivências.  
Não faço este pequeno texto para denigrir a imagem dos profissionais da comunicação social guineense, mas simplesmente como meio para chegar um fim. Um dos setores que mais precisa de apoio na Guiné-Bissau é a área da informação. Depois dos resultados saídos da mesa redonda, desconheço a fatia do bolo para o setor.  A titulo de exemplo (há bem pouco deixei o país) vivenciei muitas dificuldades que os órgão estatais estão a deparar. As lamentações do presidente do SINJOTECS não têm cabimento nesse evento com o governo. O Sindicato Nacional de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social não deve esperar que o governo se torne um Jesus Cristo com o seu convite “vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”, para depois serem saradas as suas feridas.

Pela legitimidade da minha opinião, permitam-me falar da RDN onde passei como os outros. Dispenso qualquer mal estar sobre o texto, mas a velha casa serve de um suporte do tal Neemias que surge no centro das atenções com sua opinião sobre a situação da comunicação social na Guiné-Bissau.
A história da Radiodifusão Nacional é bem longa e difícil de entender. Pelo que eu saiba, foi uma rádio da luta de libertação nacional. Depois da entrada do PAIGC e sua equipa de guerrilha em outras palavras diria a entrada em funcionamento do novo estado nacionalista, foi transformada numa rádio nacional. Em comparação com todas as rádios bem destacadas no país a RDN é o número um em termo de pessoal profissionalizado e último na lista em termo de condição laboral. Para não ser pessimista, acho que devíamos transformar a velha casa num museu nacional de áudio. Porque as exigências do século XXI não se coadunam com esse nível de fazer rádio.
O funcionamento cabal da RDN exige um “MITI MON NA LAMA” - (expressão do nosso Presidente da República) - de todos os atores da vida política do país, não só do ministro que também tem uma rádio para se sustentar. As dificuldades da rádio começam pela porta da entrada até na porta de saída para o lar da Marinha Nacional de Guerra. E continuam na queda da energia no pleno noticiário de grandes blocos, na falta de computadores, na falta de uma instalação adequada e na situação de ditos “estagiários” que agora são contratados, considerados como motor no funcionamento da rádio. Estes são os mais patrióticos que conheci na minha vida, que em cada governo sempre aumentam as expetativas de verem resolvidos seus problemas.
O mundo de hoje se resume a uma aldeia virtual. Exigências de momento colocam muitos desafios pela frente. A RDN por seu dever de informar e formar a opinião pública e permitir que a voz da diáspora chegue ao mais longínquo canto do país está ainda muito longe disso. Muitos dirigentes passaram pelas portas da rádio sem nenhum sinal palpável sobre o cumprimento cabal das missões da rádio nacional. O legado deixado foi sempre aprofundar a rádio para o abismo das incertezas.
O Dia Mundial da Liberdade da Imprensa não se resume à solidariedade para com a classe. Se não houver perseguição para que sirva um jantar de solidariedade? O dia requer uma resposta certa aos desafios que os profissionais têm pela frente. Não num jantar para cimentar relações simpáticas entre Rei e Rainha.
Para terminar esta minha observação, sublinho que o “World Press Freedom Day” podia ser marcado com a entrega de computadores, inauguração de uma nova instalação para o funcionamento pleno de qualquer órgão estatal, aumento de salário aos jornalistas e técnicos que são trabalhadores mais mal pagos da nossa querida arcaica administração pública, lançamento de pedra para construção de uma casa que vai albergar a rádio e a televisão ou uma ação que dignifique a classe e não jantar coroado de discursos socráticos. Pode não existir perseguição, sim, mas existe uma forma muito simples de silenciar a comunicação social. Uma mídia sem mínima atenção dos governantes é uma censura moderna. Fecho este artigo com a frase bem conhecida do filósofo alemão Max Weber: “As tentações muito mais graves, e as outras condições que acompanham o trabalho jornalístico no momento presente, produzem os resultados que condicionaram a forma pela qual o público vê a imprensa, com um misto de desdém e covardia piedosa”. A Política como Vocação.

SP, 23/05/2015
São Paulo/Brasil
Neemias António Nanque