O passado dia 3 de Maio foi marcado como o Dia Mundial
da Liberdade da Imprensa. A data foi instituída pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura em 1993. Com o propósito de alertar o
mundo sobre as impunidades cometidas contra jornalistas. Na Guiné-Bissau
profissionais da comunicação social foram emudecidos por jantar oferecido pelo
governo.
Tem havido um casamento entre o governo dirigido por
Domingos Simões Pereira e a imprensa guineense, como é óbvio, alguns tentaram se
contrapor a certas atitudes dos nossos governantes, mas faltam muitas
estratégias e ética profissional para se posicionar melhor e fazer um trabalho
de qualidade. O autoproclamado
procurador da verdade não passa de um simples bater da chuva nos zingos de
Bissau. De tanto bater há de chegar o sono.
A comunicação social tem um papel incontornável num
estado de direito e democrático, mas no caso da Guiné-Bissau a história acontece
de outra forma. Reconheço e admiro a qualidade e profissionalismo de alguns, em
outra parte, vejo a maioria de jornalistas que no fundo não são. Estes se refugiaram
na colheita e na difusão da informação como salvaguarda das suas
sobrevivências.
Não
faço este pequeno texto para denigrir a imagem dos profissionais da comunicação
social guineense, mas simplesmente como meio para chegar um fim. Um dos setores
que mais precisa de apoio na Guiné-Bissau é a área da informação. Depois dos
resultados saídos da mesa redonda, desconheço a fatia do bolo para o setor. A titulo de exemplo (há bem pouco deixei o
país) vivenciei muitas dificuldades que os órgão estatais estão a deparar. As
lamentações do presidente do SINJOTECS não têm cabimento nesse evento com o
governo. O Sindicato Nacional de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social
não deve esperar que o governo se torne um Jesus Cristo com o seu convite “vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos e eu vos aliviarei”, para depois serem saradas as suas feridas.
Pela
legitimidade da minha opinião, permitam-me falar da RDN onde passei como os
outros. Dispenso qualquer mal estar sobre o texto, mas a velha casa serve de um
suporte do tal Neemias que surge no centro das atenções com sua opinião sobre a
situação da comunicação social na Guiné-Bissau.
A
história da Radiodifusão Nacional é bem longa e difícil de entender. Pelo que
eu saiba, foi uma rádio da luta de libertação nacional. Depois da entrada do
PAIGC e sua equipa de guerrilha em outras palavras diria a entrada em
funcionamento do novo estado nacionalista, foi transformada numa rádio
nacional. Em comparação com todas as rádios bem destacadas no país a RDN é o número
um em termo de pessoal profissionalizado e último na lista em termo de condição
laboral. Para não ser pessimista, acho que devíamos transformar a velha casa
num museu nacional de áudio. Porque as exigências do século XXI não se coadunam
com esse nível de fazer rádio.
O
funcionamento cabal da RDN exige um “MITI MON NA LAMA” - (expressão do nosso
Presidente da República) - de todos os atores da vida política do país, não só
do ministro que também tem uma rádio para se sustentar. As dificuldades da
rádio começam pela porta da entrada até na porta de saída para o lar da Marinha
Nacional de Guerra. E continuam na queda da energia no pleno noticiário de
grandes blocos, na falta de computadores, na falta de uma instalação adequada e
na situação de ditos “estagiários” que agora são contratados, considerados como
motor no funcionamento da rádio. Estes são os mais patrióticos que conheci na
minha vida, que em cada governo sempre aumentam as expetativas de verem resolvidos
seus problemas.
O
mundo de hoje se resume a uma aldeia virtual. Exigências de momento colocam
muitos desafios pela frente. A RDN por seu dever de informar e formar a opinião
pública e permitir que a voz da diáspora chegue ao mais longínquo canto do país
está ainda muito longe disso. Muitos dirigentes passaram pelas portas da rádio
sem nenhum sinal palpável sobre o cumprimento cabal das missões da rádio
nacional. O legado deixado foi sempre aprofundar a rádio para o abismo das
incertezas.
O
Dia Mundial da Liberdade da Imprensa não se resume à solidariedade para com a
classe. Se não houver perseguição para que sirva um jantar de solidariedade? O
dia requer uma resposta certa aos desafios que os profissionais têm pela
frente. Não num jantar para cimentar relações simpáticas entre Rei e Rainha.
Para
terminar esta minha observação, sublinho que o “World Press Freedom Day” podia
ser marcado com a entrega de computadores, inauguração de uma nova instalação para
o funcionamento pleno de qualquer órgão estatal, aumento de salário aos jornalistas
e técnicos que são trabalhadores mais mal pagos da nossa querida arcaica administração
pública, lançamento de pedra para construção de uma casa que vai albergar a
rádio e a televisão ou uma ação que dignifique a classe e não jantar coroado de
discursos socráticos. Pode não existir perseguição, sim, mas existe uma forma
muito simples de silenciar a comunicação social. Uma mídia sem mínima atenção
dos governantes é uma censura moderna. Fecho este artigo com a frase bem
conhecida do filósofo alemão Max Weber: “As tentações muito mais graves, e as
outras condições que acompanham o trabalho jornalístico no momento presente,
produzem os resultados que condicionaram a forma pela qual o público vê a
imprensa, com um misto de desdém e covardia piedosa”. A Política como Vocação.
SP,
23/05/2015
São
Paulo/Brasil
Neemias
António Nanque