Há muito que tenho estado a enviar de uma forma pontual certas informações sobre assuntos relavos ao nosso querido país sem no entanto querer identificar-me. Dou a mão á palmatória por tudo isso, porque o serviço que o PN está a prestar aos guineenses deve ser acarinhado e complementado com alguma dose de estudos científicos. Chamo-me Victor João Cali, Licenciado em Geografia, Mestre em Gestão de Território, Especialista em Planeamento e Ordenamento do Território, um Técnico de Cartografia com experiência de 20 anos em Fotogrametria. Sou homem que se preocupa bastante com os problemas ambientais da Guiné-Bissau.
Sou seguidor assíduo do vosso Jovem Blogue
Nacional mas de grande valor. As vossas informações sobre a segurança alimentar
na Guiné-Bissau de 14 de junho e a de hoje sobre as preocupações da Indira Sayegh em relação ao crime ecológico aguçaram o meu apetite
em colaborar porque as questões ambientais são mais da responsabilidade de
Geógrafos.
Obrigado PN, Indira Sayegh e demais personalidades
que se preocupam com a nossa casa-mãe. Se continuarmos a agredir a nossa
Floresta em benefício pessoal, as próximas gerações não nos vão perdoar. Quem
te avisa teu amigo é!
Vejam este meu artigo sobre os:
“Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos naturais;
Os efeitos das
alterações climáticas constituem hoje uma preocupação de índole internacional
contudo desde a assinatura do Protocolo de Quioto a 11 de Dezembro de 1997
(Japão) em que “foram fixadas metas
concretas que estabelecem onde as emissões devem ser reduzidas e o volume de
tal redução: até 2012, os países da União Europeia devem diminuir suas emissões
em 8% em comparação ao ano-base de 1990; os Estados Unidos, em 7% e o Japão, em
6%” (http://www.dw-world.de/dw/article; 05-10-2011).
Segundo o mesmo artigo, muitas outras
conferências que se seguiram sobre este tema foram marcadas pela busca de como
fugir das metas estabelecidas em 1997 por parte de muitos países
industrializados com os Estados Unidos da América em primeiro lugar. Para
confirmar aquela pretensão, lembrar de que a Administração dos EUA recusou-se a
ratificar o documento que entrou em vigor em 2005, condicionando desta forma a
não concretização do estabelecido em Quioto, segundo a mesma fonte.
Partindo desta realidade, importa
salientar que os países mais pobres e em particular os da sub-região em que a
Guiné-Bissau se insere, são os mais atingidos uma vez que os seus recursos
naturais endógenos ou exógenos não estão a ser bem explorados nem bem geridos
para o benefício de todos, tudo por falta de equipamentos e conhecimentos
tecnológicos. Sendo os recursos naturais os bens que a própria natureza
disponibiliza ao homem para a satisfação das suas necessidades e que podem ser
agrupados em endógenos e exógenos, nem sempre foram bem tratados de forma a
garantir a saúde ambiental desses países. É bom lembrar que a intervenção do
homem na transformação daquilo que a natureza lhe proporciona, entra inevitavelmente
os fatores vivência, cultura, sociedade e sua história que também diferem de
país para país.
Falando de países pobres como a
Guiné-Bissau, a mitigação desse tipo de fenómenos naturais, requer custos
insuportáveis para os cofres dos Estados, o que pode dificultar ainda mais os
orçamentos desses países do terceiro mundo, com profundos problemas
financeiros. Os valores do volume da precipitação expressos na seguinte figura,
mostram o grau da vulnerabilidade e riscos com a seca que cada um desses países
da África Ocidental pode vir a enfrentar.
Volume
da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm, 2003.
Neste âmbito, a Guiné-Bissau ainda resiste à falta
de água graças ao recurso “água-doce” que abunda no litoral e da pluviosidade
que se situa entre os 1500 a 2000 mm por ano. Nos países onde existem secas
intensas que levam à escassez da comida e de outros bens da primeira
necessidade, a tendência sempre foi no sentido do abandono do campo, onde já
não existem condições para garantir a sobrevivência, rumo à cidade, à procura
de melhores condições de vida. Essas migrações podem piorar os locais de
acolhimento, porque quando falham as expectativas, começam as frustrações que
podem traduzir-se na exclusão social e às formas de comportamento marginal
(delinquência, prostituição, assaltos ou outras práticas não recomendáveis).
Muitas cidades da nossa sub-região já enfrentam esta realidade onde, em cada
dia que passa, se assiste à proliferação dos sem-abrigo, ao aumento de ilhas de
pobreza extrema, à criminalidade e ao crescimento descontrolável dos Bairros de
lata etc.
A forma
natural como foi feita a distribuição da população em todo território guineense
é ainda bem visível, porque baseou-se na constante busca de boas terras que
garantam a produtividade. Para além de muitos outros fatores, já se notam
algumas alterações no coberto florestal em certas regiões do interior, alguns
rios secam por completo durante a estação seca do ano. As migrações sazonais
aumentaram abrangendo muitas etnias, para além do tradicional nomadismo do
grupo fula. Contudo, assim que começa a estação das chuvas, muitos tendem a voltar
para os lugares de origem a fim de se ocuparem das suas terras. Sabe-se no entanto, que muitos acabam por fixar a sua residência na
cidade com espectativas de ali encontrar novas e melhores condições de vida.
Esta prática fez disparar a taxa da população urbana em Bissau, Bafatá e Gabu
nos últimos anos, para além das repercuções sentidas com a liberalização do
comércio e a integração do país na UEMOA em 1997, que aumentou a invasão
estrangeira no cumprimento das obrigações de um espaço comunitário”.
Cuidado com a devasta das nossas
florestas porque com a natureza não se brinca. A savana já domina o nosso
território e o Sahel há muito que está a nossa espreita sem piedade.
VICTOR JOÃO CALI
Email: calivj04@gmail.com