“Há
10 anos nós éramos fulas, manjacos, mandingas, balantas, pepéis e
outros...
Somos agora uma nação de guineenses, unidade dos
cabo-verdianos,
unidade entre a Guiné e Cabo Verde, unidade dos
nacionalistas
das colônias portuguesas, unidade dos povos africanos,
unidade
das forças anti-imperialistas, tudo isso para melhor lutar contra o
inimigo
comum, o colonialismo, a dominação imperialista e contra as
próprias
fraquezas.
Unidade e luta significa que para lutar é preciso unidade,
mas
para
ter unidade também é preciso lutar.
E
isso significa que, mesmo entre nós, lutamos”
Amílcar Cabral
A tentativa de construção de uma Pátria tribalizada almejada
por alguns guineenses que não pensam uma Guiné-Bissau Plural,
respeitando a sua diversidade étnica e religiosa vai na contramão
de sonho de Amílcar Cabral e de outros heróis que lutaram pela
nossa Independência. Amílcar Cabral, ao proferir a frase acima em
Havana, na década de 70 do século passado dirigia um chamado a
todos (as) nós, Papel, Balanta, Felupe, Nalu, etc, que urgia pensar
e construir uma NAÇÃO de todos (as) os (as) GUINEENSES e que a
construção de uma Nação exige sacrifício e luta. Dito de outra
forma, Building Nation, é um
processo de abnegação da minha identidade étnica para que o
sentimento de nação, ou melhor, de patriotismo possa se manifestar,
aceitando o outro, o
meu irmão com as suas diferenças culturais, linguísticas, PA
NÓ PUDI CUMÉ TUDU NA UM CABASS.
Infelizmente, nossa pátria a(r)mada tem sofrido desde a
proclamação da sua independência, 1973, uma triste tentativa de
tribalização de acontecimentos, que muitos deles em nada dignificam
uma Pátria Unida que todos nós almejamos. Neste texto “anárquico”,
quero deixar bem claro que a Guiné-Bissau não é um País que vive
de conflitos tribais, nem tão pouco religiosos, portanto não vamos
tentar dividir o País em mais de vinte e cinco pedaços (creio que
este é número aproximado de etnias da Guiné-Bissau). Os conflitos
vividos na Guiné-Bissau, sejam eles armados ou simbólicos são de
viés políticos e não tribais, da forma que alguns têm tentado
sustentar.
Apesar de eu ser definitivamente contra golpes, contra a tomada de
poder por vias não democráticas isto não significa que tenho que
dizer que algum grupo étnico é pior que o meu, ou que o meu grupo
étnico é melhor que do meu vizinho. Antes de atirarmos as pedras
olhemos primeiro para o lado. Quem sabe atingimos um amigo, uma
namorada ou um namorado que nada tem a ver com as atitudes do seu
patrício.
Conterrâneos, parece-me que a nossa querida África está a servir
hoje de palco de teatro da III Guerra Mundial, que se configura em
lutas de interesses políticos e econômicos das antigas metrópoles
e outras potências que estão a surgir. Cabe a nós, principalmente
que tivemos a oportunidade de possuir formações acadêmicas
abraçarmos a nossa terra e reverter as relações de ontem e de
hoje. Os nossos irmãos que ainda morrem em naufrágios no
mediterrâneo tentando alcançar o Velho Continente não merecem o
tamanho sacrifício e nem a África essa humilhação. Não podemos
continuar a ser periferias e nem tão pouco quintal de quem quer que
seja. Olhemos com nossos próprios olhos, pensemos com a nossa
própria cabeça e andemos com as nossas próprias pernas. Tudo se
faz com a Justiça, Reconciliação e acima de tudo uma limpeza nas
Instâncias Superiores do Estado. Nós não podemos continuar a ser
reféns daqueles que deveriam servir ao Estado, mas que passam a
servir os interesses dos inimigos do nosso POVO.
*Mestre João Paulo Pinto Có
Antropólogo
e Historiador
Cordialmente,
Mestre João Paulo Pinto Có Antropólogo/Historiador