A comunidade
internacional e a Guiné-Bissau
Não devemos ter ilusão quanto ao papel da comunidade
internacional na Guiné-Bissau. Quem é a comunidade internacional? O termo
designa, de maneira imprecisa, um conjunto de Estados e as suas organizações internacionais
e ONG`s influentes na matéria de relações internacionais. Isso quer dizer que é
uma noção aproximativa, constituída de actores diferentes, em função dos temas,
dos interesses e dos países em causa.
No caso da
Guiné-Bissau, a comunidade internacional é constituída por Estados-Unidos da
América, França, Brasil, Portugal, Nigéria, Angola, ONU, União Europeia, União
Africana, CEDEAO e CPLP. A comunidade internacional só pode ajudar. Somos nós,
os guineenses, que devemos arrumar a casa, fazendo o nosso trabalho interno
para que do apoio do exterior surjam efeitos positivos.
Como arrumar a Guiné? Para isso é preciso reinventar o
futuro? Como reinventar o futuro? Fazendo uma introspecção dos nossos
problemas, definindo as responsabilidades de cada um dos actores da vida
pública, melhorando o sistema organizacional do poder político e sustentando a
esperança através de uma transformação económica inclusiva na Guiné.
Os maiores partidos políticos da Guiné, já demostraram
os seus limites: guerras intestinas reflectiram-se a nível nacional, - golpes e
contra golpes, crimes de sangue, destruturação da economia e da sociedade,
incapacidade de criar um consenso à volta da coisa pública e disputa do
monopólio dos instrumentos coercitivos do Estado, as forças de defesa e
segurança, tornando a Guiné e o seu povo refém das contradições dos que animam
a vida política.
O próprio modelo político e constitucional de
organização do poder político, o semi- presidencialismo, não corresponde a
sociologia política e cultural da percepção e do exercício do poder na Guiné.
Tivemos sempre confusão entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro,
mesmo sendo sempre do mesmo partido político. Isso implica que os partidos
políticos e os seus dirigentes devem também ser reformados para que se possa
definir claramente um modelo societal abrangente de toda a diversidade da
sociedade guineense. E só com um modelo societal, aceite por todos que têm uma
força moral baseada num novo contrato social, que a Justiça poderá funcionar e
acabar com o surto de impunidade na Guiné.
Actores e modelo políticos relevam das vontades
individuais e colectivas. Mas, para que essa vontade não se perda nos mares das
necessidades humanas, é preciso criar uma dinâmica que os mantenha vivos, que
dê esperança e que faça acreditar que hoje será menos pior do que ontem e que
amanhã será melhor que hoje. Isso passa pela transformação económica da Guiné,
através do crescimento económico inclusivo que dará emprego condigno às
mulheres e aos homens na idade de trabalhar, para acabar com a pior doença do
corpo social, a pobreza. Sem essa dinâmica económica nada mudará na Guiné,
mesmo com o apoio da comunidade internacional.
Isso implica a escolha nas próximas eleições de pessoas
competentes, de boa moralidade e que podem ser ouvidas no exterior para dar
esperança ao povo, legitimando o poder que sairá das urnas com a voz dos que
constituem a principal força política silenciosa na Guiné-Bissau desde as três
ultimas eleições: os 45% dos abstencionistas que não se reconhecem nem nos
actores actuais da política (partidos e indivíduos), e nem nos projectos de
sociedade desses partidos. Assim sendo, a questão do perfil do futuro
Presidente da República, do futuro Primeiro-ministro, deve estar desde já na mente
de cada um de nós.
Podemos resumir este texto em uma frase: «Kim ku pudi
manda pa tira Guiné na é situaçon? »
João dos Reis da Costa