domingo, 23 de fevereiro de 2014

NOVO LÍDER DO PAIGC É O FAVORITO PARA SER O NOVO PRIMEIRO MINISTRO

Lisboa, 22 fev (Lusa) -- O politólogo português Raul Braga Pires considerou hoje que o recém-eleito presidente do PAIGC tem boas possibilidades de se tornarprimeiro-ministro nas eleições de abril na Guiné-Bissau, considerando a sua liderança partidária como algo muito positivo para o país.

"Sim. Penso que sim [que o candidato do PAIGC] tem boas possibilidades ser eleito primeiro-ministro", disse à Lusa Braga Pires.

"A Guiné-Bissau é um bocadinho como Portugal neste sentido, já que qualquer líder do PS ou do PSD (comparando os partidos portugueses ao PAIGC) é automaticamente um potencial primeiro-ministro", declarou.

As eleições gerais na Guiné-Bissau, que surgem na sequência do golpe militar em abril de 2012, estão marcadas para 16 de março, embora o atraso no processo de recenseamento eleitoral em curso possa levar a mais um adiamento.

Braga Pires, também professor da Universidade de Rabat, considerou que a escolha de Domingos Simões Pereira para a presidência do PAIGC "foi positiva e, neste momento, não poderia haver um sinal mais positivo".

Simões Pereira foi eleito presidente do PAIGC no dia 09 de fevereiro, durante o oitavo congresso partidário, que decorreu em Cacheu.

Braga Pires indicou que o presidente do PAIGC é da "nova geração" do partido e "projeta, credibiliza mais a Guiné-Bissau em termos internacionais e é isso que é o país precisa neste momento".

Simões Pereira, segundo o politólogo, é "um tipo que vem de fora, que foi secretário executivo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), com excelentes contactos ao nível internacional (...), é um intelectual".

"Parece-me que o problema neste momento, no seio do PAIGC, no seio da instituição militar e, no fundo, no seio da Guiné-Bissau é a fome, literalmente", disse.

"Se esta fome for colmatada, depois as coisas passam a ser mais tranquilas, mais geríveis, mas isto não acontece da noite para o dia", afirmou o investigador correspondente do Observatório Político em Marrocos e doutorando no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

Braga Pires indicou que o problema das chefias militares no país e o seu envolvimento com o narcotráfico pode ser perigoso para os chefes executivos do país.

O antigo almirante e ex-chefe do Estado-Maior da Marinha guineense, Bubo Na Tchuto, foi preso em 2013 pela Força Administrativa de Narcóticos (DEA, em inglês) dos Estados Unidos pelo seu envolvimento com o narcotráfico que passa pelo continente africano com destino à Europa.

Outros líderes militares guineenses são acusados pelos Estados Unidos de estarem envolvidos no tráfico de drogas e muitos chefes do Executivo também foram acusados deste crime.

"Há de se ter agora luvas de veludo para gerir esta situação (das chefias das forças armadas). Parece-me que é preciso compensar de alguma forma os militares que fizeram a guerra de independência, compensar os militares que estejam na reserva e fizeram a guerra civil", opinou.

Braga Pires acredita que Simões Pereira "tem os contactos internacionais necessários" para angariar o dinheiro que é preciso e passar à reforma várias pessoas que estão nas lideranças militares, mesmo porque há uma nova geração de militares que não estão de acordo com "o que ocorre à nível das chefias militares".
"Tudo está dependente, não apenas da Guiné-Bissau, mas também de todo o enquadramento regional (...) sobretudo no Mali (com o novo governo eleito depois do golpe de 2012) e na Argélia (eleição presidencial em abril)", adiantou, sobretudo porque estes dois Estados, entre várias nações africanas, estão envolvidos também no narcotráfico para a Europa.

"Ele (Simões Pereira) está, neste momento, numa situação muito inconfortável, muito insegura, muito ingrata, mas é a situação que existe na Guiné-Bissau, e deste ponto de vista, tem mostrado coragem suficiente para assumir este papel", afirmou.

Braga Pires referiu que "a CPLP poderá ter um forte pendor no futuro da Guiné-Bissau, por via desta eleição de Simões Pereira no PAIGC, e isso também poderá significar que haverá um regresso dos angolanos ao país, não ao nível militar, mas ao nível comercial".

O professor da Universidade de Rabat afirmou que, depois de militares angolanos num projeto de cooperação serem expulsos do país após o golpe militar de 2012, a Guiné-Bissau quer agora renegociar os contratos de concessão da exploração de bauxite em território guineense já existentes com Angola.
O politólogo admite que houve uma certa resistência de países da região ao avanço angolano na Guiné-Bissau, nomeadamente da Nigéria.

CSR // PJA
Lusa/fim