quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PETRÓLEO NA GUINÉ-BISSAU (INTRODUÇÃO)

 O Progresso Nacional orgulha-se de apresentar mais um artigo de fundo, de jornalismo de investigação, sobre os nossos recursos naturais: depois dos fosfatos de Farim, abordamos agora o assunto do petróleo. Recorde-se que foi o Progresso Nacional que chamou a atenção para o relatório técnico que haveria de dar aso a várias notícias, uns dias depois, no princípio deste ano, na comunicação social portuguesa e guineense.
Há que saber aproveitar os bons exemplos na defesa dos interesses dos países e dos povos: estamos a pensar no caso de Timor, que pretende impugnar os termos desiguais de um acordo bi-lateral de partilha de recursos minerais com a Austrália, por sonegação da informação. Mais do que nunca é preciso estarmos atentos e perceber que a informação é vital para a tomada de decisões que possam beneficiar o Progresso Nacional.
Começaremos pela questão da disputa territorial que se seguiu à Independência nacional, relativamente à delimitação das fronteiras marítimas, cujo último passo foi a Lei de Fixação dos Limites das Zonas Marítimas do país, aprovada pela Assembleia Nacional Popular, no passado dia 9 de Dezembro de 2013. Apresentaremos um breve resumo, realçando o papel da Agência de Gestão e Cooperação na integração sub-regional.
Efectivamente, a AGC é uma entidade transnacional criada procurando solução para o diferendo territorial com o Senegal e dedicada a gerir uma zona económica comum, definida a Norte pelo azimute 268 e a Sul pelo 220, tomando o Cabo Roxo por ponto de rotação. Sedeada em Dakar, é dirigida por um guineense, o engenheiro Júlio Baldé, distribuindo 50/50% nas pescas mas apenas 15/85% nos minerais, a favor do Senegal.
O Senegal, cuja capital é iluminada graças a uma captação de gás, mas que continua fortemente deficitário energeticamente, manteve fortes expectativas relativamente à descoberta de petróleo comercial na sua fronteira Sul, mas teve nos últimos anos resultados decepcionantes no próximo offshore. Frustrante: quase duas décadas de prospecção e tanto dinheiro gasto acabar por dar apenas em furos selados e abandonados.
Relatórios apontam agora mais para Sul, onde se sabem existir pelo menos cerca de trinta depósitos de grande dimensão que são como armadilhas para petróleo. Tem sido como que um jogo do gato e do rato. Prospecções goradas, que passados uns anos se descobre baseadas em dados pouco consistentes, empresas que compram licenças, outras desistem, vendem participações, fundem ou abrem falência. Muita especulação.
O processo de captação e de tratamento da informação, por várias técnicas, também evoluiu bastante. Apresentamos o trabalho da Dolphin (golfinho), empresa norueguesa em forte crescimento dedicando-se à cartografia multi-sensorial dos fundos marinhos e que tem em curso um projecto multi-cliente abrangendo toda a faixa costeira da África Ocidental, da Mauritânia a Conacri, que dotará a indústria de informação relevante.
Este projecto disponibilizará um conjunto de dados a três dimensões (os mais valiosos para a tomada de decisões de probabilidade de prospecção), cobrindo de forma sistemática todo o offshore da Guiné-Bissau (e em especial o da zona de exploração comum com o Senegal), sendo legítimo supor que representa um contributo valiosíssimo (de várias décadas, ao ritmo a que se estavam a processar) para o arranque da exploração económica.
Entretanto, a «competição» por África envolve não apenas a já tradicional França, que aspira a manter a sua afirmação de potência, mas também os Estados Unidos (que reconhecem em recentes relatórios oficiais, o seu interesse no emergente petróleo oeste-africano), a China, com uma actuação de mãos largas no tocante a obras públicas e «pouco exigente» em matéria de regime, e os russos, interessados em recuperar o antigo prestígio.
O enorme salto que a informação geofísica a disponibilizar representa é um grande desafio para a Guiné-Bissau e a Petroguin, no sentido de sistematizar essa informação e de criar uma massa crítica nacional de decisão, garantindo o interesse nacional nas negociações dos termos das concessões. Se o «porco» é guineense, há que garantir inteligência na maneira de o repartir, de forma a que calhe ao país mais do que um simples «chouriço».
Este é um desafio para o novo Governo, legitimado pelas urnas, no sentido da TRANSPARÊNCIA, perante o povo, quanto aos processos, e contrapartidas envolvidas, evitando assim apropriações indevidas, de forma a colocar esses fundos ao serviço do desenvolvimento: fala-se de um Pacto de Regime, envolvendo não só o PAIGC e PRS, mas todas as forças vivas da nação, num projecto sério e sustentável de estabilidade política.