sexta-feira, 20 de setembro de 2013

POEMA: "SANGUE DOS TEUS FILHOS"

Djumbai de Sangue

Num Djumbai de sangue,
nhu verde, esverdeado e cansado de enganar as matas,
fala assobiado no ouvido do nhu azul ,
sugador da vida amena, que nas leis respira dorida.
Diz-lhe:
Nô tchoranta mamã,
nô molostral pa i sinti dur na corçon!

Pródigos filhos, os teus…
adoçam
o néctar das tuas tetas
com sangue
que a tia chuva lava rápido nas valetas da memória.
Pródigos filhos, os teus…
com olhos no umbigo,
branqueiam os dentes
com a bênção das tuas entranhas.
Pródigos filhos, os teus…
que amam as lágrimas
de uma mamã dorida.

Escrevo-te mamã,
os pródigos filhos, teus,
não me querem junto de ti.
Irmãos meus,
que sem tu veres,
batem-me na esperança,
espremem-me as lágrimas no coração,
dizem-me para ter medo
e que o teu regaço já não tem espaço para mim.

Mamã, linda mamã!
Chama os teus codés!
Abraça-os na ternura dos dilúvios do teu sol,
na quentura dos teus rios,
que falam aquela sabura
que só a saudade entende.

Fala baixinho no coração
dos pródigos filhos, os teus.
Diz-lhes que a secura te beijou nas lágrimas,
diz-lhes que lhes amas,
e, finalmente, diz-lhes
que o sangue, dos teus filhos, não tem açúcar.

Dautarin da Costa (2013) in Recados da Paz: Antologia poética para a paz na Guiné-Bissau