Em Abril de 2012, nas vésperas da segunda volta da eleição presidencial
que daria vitória certa ao primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (49%
dos votos na primeira), eclodiu na Guiné-Bissau um golpe militar. Carlos
Gomes Jr. conseguira melhorar a reputação do país, pagar os salários da
função pública, pôr a economia a crescer, reprimir o crime organizado.
O pretexto do golpe foi a presença da força militar angolana em
Bissau para apoiar a reforma das Forças Armadas e resolver o problema
político-institucional do país: a permanente chantagem que alguns
militares exerciam sobre o Executivo.
A missão militar angolana desempenhava um papel-chave, assegurando a
passagem à disponibilidade dos militares mais velhos, devidamente
compensados financeiramente, e o treino e equipamento das novas Forças
Armadas da Guiné-Bissau. Mas, regionalmente, alguns interesses quiseram
impedir a ‘ingerência angolana’ – por isso inspiraram o golpe. E só a
intervenção de vários governos – entre os quais o de Lisboa – garantiu a
vida do primeiro-ministro Carlos Gomes Jr., feito prisioneiro pelos
golpistas.
Desde então, a Guiné-Bissau ficou refém dos golpistas que
improvisaram um governo de transição e designaram Sherifo Namadje,
presidente da Assembleia Nacional, para Presidente da República.
Foram necessários paciência, esclarecimento e esforço diplomático para
abrir caminho para eleições que devolvessem o país aos representantes do
povo. O PAIGC, liderado por Domingos Simões Pereira, ganhou essas
eleições em Junho, com maioria absoluta. O seu candidato presidencial,
José Mário Vaz, foi também eleito na segunda volta, contra Nuno Nabiam, o
favorito de Kumba Yalá, entretanto falecido.
A restauração total da normalidade constitucional deu-se no passado
dia 15 de Setembro, com a saída do CEMGFAA, general António Indai, o
chefe do golpe de Abril de 2012. Para o substituir, foi escolhido o
brigadeiro-general Biaguê Nan Tan, chefe da Casa Militar do Presidente.
Estão agora reunidas as condições políticas internas e externas para a recuperação económico-social da Guiné-Bissau.
O país estava a crescer a ritmo de dois dígitos nos dois anos que
precederam o golpe de Abril de 2012 e tem uma economia viável. Tem uma
boa base agrícola – o melhor caju do mundo, condições para a produção de
arroz e de frutas tropicais – e águas ricas em peixe. Tem madeiras
preciosas, é rico em bauxite e terá, provavelmente, reservas de
hidrocarbonetos. Projectos infra-estruturais de fundo, como o porto de
Buba, podem mudar a economia do país e da região. Uma boa conjuntura
para que, com o apoio prometido das instituições internacionais e
regionais, o investimento português faça a diferença.