O pesadelo de um poder hostil cruza-se
com o dia-a-dia de uma população ansiosa e desassossegada. A esperança ilusória
ganha força e a recompensa de uma luta fratricida corrói a alma de gente sã e
fiel aos princípios e valores éticos.
Ainda assim, persiste a firmeza no
coração dessa gente martirizada e vontade de um novo esplendor que tarda em
florir do horizonte imaginário.
Na essência dessa pátria amada ainda tem
lugar o sonho roubado de uma vida de glória e de encanto embalado com o assobio
do vento. A amargura do povo colide com a vontade em separar do corpo a alma
que corrói e destrói a esperança que tanto crê e mantém aceso o fulgor dessa
pátria.
Dizem que nas mãos do povo reside o
sucesso ou o fracasso de uma nação. Sabemos que esse povo atormentado não deve procurar
satisfazer a sua sede de liberdade bebendo na taça da amargura e do ódio, mas
sim conduzir a luta no alto plano da dignidade e da disciplina.
Sabemos que esse povo não deve aceitar
e nem permitir que o protesto criativo suscite violência física, mas essa
revolução pacífica da esperança não pode tornar-se presa de poderes hostis.
Na verdade, o povo acredita que reside
no futuro a esperança de uma nova travessia que requer, desde já, uma união plena
e um esforço na construção e fortificação das pontes que levarão ao
entendimento e ao progresso nacional.
Esse futuro assentará no pilar da
verdade, da justeza e da união, pois uma nação dividida pouco pode fazer para
enfrentar um poderoso desafio, o tal que faz parte do dia-a-dia de gente
humilde e simples, que carrega sobre os seus ombros a idade e a responsabilidade
de uma vida de sofrimento.
Se
me perguntarem, direi apenas que…
A conjuntura do País é na verdade
controversa e atinge a Nação com dureza que não se lembra a história…e que, neste
momento, resgatar a pátria é uma missão quase impossível, mas provável.
O sacrifício de uma vida foi mantido pela
utopia de um novo começo, tanto pelos que tombaram, como pelos que continuam, e
continuarão, afincadamente, na linha da frente do combate por um ideal e um
propósito comum.
O pesadelo que persegue e sufoca a
jovem nação termina quando a responsabilidade que pende sobre os seus filhos, e
filhas, se tornar evidente perante o olhar sincero e inocente de uma criança
que apenas conta com um País para viver, crescer e amar.
Se
me perguntarem, direi apenas que…
Neste momento o futuro das crianças,
da juventude, dos mais velhos e da própria Nação está comprometido e requer uma
aproximação da Comunidade Internacional e uma decisão clara sobre o que
pretende fazer para salvar este País moribundo e sem esperança.
Se
me perguntarem, direi apenas que…
Neste momento morrem dezenas de
crianças, jovens e adultos por falta de assistência médica e medicamentosa;
Neste momento, mais uma vez, são
espancadas dezenas de jovens e adultos, por se atreverem a enfrentar a classe
politica e castrense, lutando pelos seus direitos e por um país livre e justo;
Neste momento a população guineense está
a esvair-se sem esperança que o dia de amanhã lhe traga boas novas de um país melhor;
Neste momento a floresta guineense
está a sangrar com o corte indiscriminado de árvores centenárias engaioladas
nos contentores rumo ao destino incerto;
Neste momento os recursos pesqueiros
guineenses estão a ser invadidos com as redes ilegais de pesca retirando o pouco
sustento das famílias que vivem dessa atividade;
Neste momento os recursos naturais e
minerais estão a ser delapidados com saques indiscriminados e sem proveito para
as populações;
Neste momento a fome tomou conta do
povo de um país abundante em recursos mas apenas no imaginário da sua gente;
Neste momento a Comunidade
Internacional olha para a Guiné-Bissau e abana a cabeça como se estivesse a
dizer, “isto não é nada connosco”;
Neste momento o povo morre de
desgosto porque já não consegue alimentar-se da esperança.
Sobretudo, se me perguntarem, direi
apenas que “todos os que ganham poder têm medo de o perder, e quanto mais medo
se espalha mais lucro se ganha."
Luis Barbosa Vicente
Email: luis.barbosa.vicente@gmail.com