Toda opinião aqui dada foram as minhas
simples observações. O quanto isto pode repercutir, a responsabilidade cabe a
mim; por isso, peço desculpa ao leitor deste artigo pelas abordagens que
poderão advir.
“Entre alegria e tristeza na
hospedagem”
A vida é como um palco. Você afasta as
cortinas e vê os dramas, as lutas, os conflitos e a procura incessante de novos
horizontes.
Há
gentes que sonham, anseiam e trabalham para encontrar um lugar ao sol. Muitos
nascem, envelhecem e morrem sem chegar ao porto desejado. Alguns não sabem
sequer de onde vêm ou para onde vão. Mas o menino africano é cheio do espírito
negro de rever uma África de homens e mulheres capazes de escavar o
desenvolvimento no seu fértil solo. A nossa esperança mante-se inabalável em ver uma nova África prospera e feliz no rosto das
nossas crianças.
Falar do Brasil nada mais, nada menos do
que rever o passado histórico que o unia com a África. Um país que a sua descoberta ocorreu no
período das grandes navegações europeias, onde o Portugal e a Espanha exploravam o oceano em busca de novas
terras.
No
inicio do século XV,
chegava ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. Momento
marcava o primeiro contato dos navegadores portugueses com as terras indígenas,
hoje o Brasil.
Dada
às ameaças e a crise que
a Europa enfrentava na época, a partir de 1530, com a expedição organizada por
Martin Afonso de Souza, que
a coroa portuguesa começou a interessar-se pela colonização da nova terra.
A ocupação dos portugueses nas terras
indígenas durou quase cinco séculos, implementando na época a lavoura
açucareira na colônia que se iniciou com o uso extensivo da mão-de-obra
Indígena. A escravidão dos aborígines foi um momento fugaz na história da
agricultura colonial de exportação do Nordeste. A transição da predominância
indígena para a africana na composição da força de trabalho escrava ocorreu aos
poucos ao longo de aproximadamente meio século. Essa mudança dependeu
parcialmente da percepção dos portugueses quanto às habilidades relativas de
africanos e indígenas.
De recordar que antes da descoberta do
Brasil, portugueses já tinham estabelecidos
contatos com territórios africanos há mais de meio século. Na metade do século
XV, o primeiro cargueiro português de escravos partiu da antiga senegambia para
ilhas de cabo-verde e posteriormente para o resto de mundo.
A
este propósito, em finais do século XV, a habilidade africana em dominar as
técnicas do fabrico do açúcar na Madeira e em São Tomé e Príncipe, já havia
impressionado os portugueses. No Brasil, os colonizadores, há tempos habituados
ao emprego, em Portugal e nas ilhas atlânticas, de negros em serviços
domésticos, como artesãos urbanos e escravos especializados, começam a pensar
na África como uma fonte lógica de homens com tais aptidões. Os primeiros
cativeiros negros vieram para o Brasil como criados particulares ou
trabalhadores especializados, e não para lavrar os campos. Na região baiana,
podemos tomar em consideração a grande transformação da população de um único
engenho ao longo do tempo.
Em
1572, o Engenho Sergipe possuía 280 escravos adultos, dos quais apenas 20 eram
africanos. Em 1591, a população cativa do engenho era de 103 indivíduos, 38
deles eram africanos. Em 1638, quando a propriedade foi arrendada a Pedro
Gonçalves Matos, havia 81 escravos, todos eles africanos. Essa mudança
justifica momentos crescentes da presença africana no Brasil, principalmente no
nordeste.
São Francisco do Conde, terceiro município
do Recôncavo é a marca da presença africana no nordeste, tendo guardado um
grande patrimônio do Brasil colonial. Através dos sobrados, igrejas, engenhos
construídos durante administração portuguesa podemos testemunhar a mão-de-obra
africana.
Com
abolição da escravatura e o retorno de alguns africanos às suas terras de
origem, a cidade de São Francisco do Conde desuniu o seu contato direto com o
povo africano, mas continuam ainda unidas através da história e da cultura.
Passado um pouco mais de dois séculos,
através da UNILAB, numa parceria firmada com PALOP (Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa) a cidade recebeu o primeiro grupo de estudantes africanos.
Literalmente, o ato servia de reencontro da família negra. Mas nem por isso, a
presença da comunidade africana no município foi um susto, suscitando muitas
especulações. Alguns citadinos qualificavam o grupo dos seus jeitos, uns
consideravam de refugiados e doentes. Apesar disso, a maior parte interagiu com
o grupo para colher a verdadeira história do continente africano.
Duas semanas depois da chegada, o grupo
promoveu a primeira atividade da integração, a efeméride coincidia com os vinte
e cinco de maio, Dia da África. A dança tradicional e a gastronomia africana
marcaram momentos mais altos do evento. A primeira palestra sobre África no
quotidiano servia de um ponto de partida de um processo de descolonização das
imaginações presas pelo passado. O evento juntou a direção da UNILAB,
professores e a população local.
Nada obstante, permanecem ainda algumas dúvidas sobre a estadia
dos estudantes estrangeiros na cidade. No seu discurso da cerimónia da
inauguração da faculdade, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio da Silva
“LULA” afirma que “o Brasil tem a divida
com África... a UNILAB surge como forma de pagar essa divida”. De modo
específico cabe à prefeitura assumir esse desafio. Os nossos ouvidos
abiscoitaram que a “prefeitura traz os
africanos dando lhes faculdade, pagando alimentação e o alojamento”.
Sobre
esta dúvida remanescente, importa sublinhar que antes da vinda dos estudantes,
tudo estava acordado nas embaixadas locais, que cada família de estudante terá
que suportar financeiramente a estadia do seu educando. O que a prefeitura está
a fazer aos estudantes africanos é um dever na minha modesta opinião.
Depois dos três meses em alojamento sob
custódia da prefeitura, cada estudante era obrigado procurar o seu imóvel para
morar. De uma forma despropositada, os alugueres servirão de estratégias da
integração. A comunidade esta
espalhada um pouco por todos os bairros do município. Desde Baixa Fria, entrada
da cidade até a Pitangueira.
Como é obvio as dificuldades sempre acompanham
o homem em sua vida cotidiana. As aulas em todos os dois trimestres foram
marcadas de muitas
dificuldades, dentre quais, o maior problema se prendia com a língua portuguesa. Todos são falantes
da mesma língua, enquanto língua oficial nos países africanos, mas que no
Brasil sofria algumas variações, algumas palavras eram vistas como
desconhecidas para os estrangeiros. Mesmo assim, a língua serviu de via viável
e facilitadora da inserção da comunidade africana.
Concernente à segurança da integridade
física dos nossos compatriotas, tudo a esta quem desejar. Uma das nossas meninas foi saqueada e
roubada celular sem uma resposta positiva por parte da autoridade local. Outra
preocupação do grupo é face ao aumento galopante dos preços dos alugueres de
casas. Um imóvel que custava 400,00 reais passa já para 500,00 ou 600,00 reais,
porque a cidade receberá novos estudantes. O argumento se assenta na vinda de novos estudantes.
A maturidade político-social e
associativa de estudantes estrangeiros foi demonstrada na criação do seu corpo
representativo juridicamente. A associação recém-criada se assentará em defesa e na união dos seus
membros.
Em suma, o presente ano foi um ano negro
pela comunidade. O grupo foi abalado nos últimos dias com as trágicas notícias
dos desaparecimentos físicos de familiares dos nossos conterrâneos. Os dois
colegas perderam pais e um perdeu a mãe. As lágrimas fecharam ano letivo.
Neemias
António Nanque