"Depois de passar a usar burca, ela deixou de me falar e eu não a reconheço. Ela está vedada", lamenta.
Ambas são muçulmanas guineenses, mas Helena não percebe o que levou a
amiga a usar o véu integral, uma atitude que considera "passar dos
limites", porque "não há nada" na religião que obrigue a esconder a
cara, diz à agência Lusa.
Helena Said, 41 anos, ativista dos direitos das mulheres, apresenta-se como uma pioneira a usar véu islâmico na Guiné-Bissau, mas nunca um tipo de véu que a tapasse por inteiro.
Foi na década de 1990 que de livre vontade decidiu esconder o cabelo da vista dos homens, porque "esse sim" é o preceito defendido pelo Alcorão, refere.
O manto total nunca foi tradição entre os muçulmanos do país lusófono, mas foi adotado por algumas correntes do Islão e há cada vez mais pessoas a usá-lo na Guiné-Bissau - inclusivamente pessoas suspeitas de crimes, ao ponto de as autoridades islâmicas nacionais o desaconselharem por questões de segurança.
"Há gente a fazer mal com esses véus", usados como disfarce sob a justificação de preceitos religiosos, conta à Lusa o primeiro vice-presidente do Conselho Superior Islâmico da Guiné-Bissau, Alanso Fáti, referindo que foram já chamados pelo Ministério da Administração Interna.
O encontro aconteceu no final de 2014 e estavam em causa pequenos delitos, mas os riscos são maiores, face aos atos de terrorismo praticados por grupos radicais em países da sub-região como o Mali e a Nigéria e que são praticados de cara coberta.
Desde o alerta das autoridades, o Conselho Superior Islâmico tem feito declarações públicas em que desaconselha o uso da burca ou niqab, em nome da segurança do país.
"Não queremos fomentar essa ideia de que estamos só contra o véu. O que se passa é que estamos contra as gentes que estão a usar isso para fazer mal", sublinha Fáti.
Ao mesmo tempo, os dirigentes dizem estar vigilantes face ao risco de haver terroristas que se infiltrem nas comunidades muçulmanas do país.
"Não sei se os há aqui, mas temos cautelas para que esse mal não chegue à Guiné-Bissau", cuidados que consistem em "vigilância e tomadas de posição", diz Alanso Fáti, sem entrar em detalhes.
Estima-se que 40% da população guineense siga o islamismo, mas a burca nunca fez parte das tradições do país.
É antes o reflexo de influências externas que vão se instalando e criando novos seguidores entre os guineenses, como por exemplo, graças aos imigrantes de "países vizinhos", refere o antropólogo guineense Mamadú Jao.
Com "as questões que se colocam no mundo" relativas à segurança, aquele especialista em estudos africanos considera "perfeitamente legítimo" que se queira travar o uso da burca na Guiné-Bissau, onde o manto não tem raízes culturais.
Helena Said vai mais longe e, além da segurança, considera que a burca acaba com a vida social e intervenção cívica das mulheres.
"Há várias mulheres que a usam porque são forçadas pelos maridos", mas nem sempre é assim.
Outras usam-na porque querem, porque "foram sensibilizadas por outras mulheres ou porque estão nas escolas de quem usa burca", explica.
"Como podes cumprimentar alguém que não reconheces? Como é que um homem se pode apaixonar por uma mulher sem ver a cara? Ou como podemos saber se alguma sofre de violência doméstica", são questões que o véu integral pode deixar sem resposta, alerta Helena - da mesma forma que ficou sem saber o que se passou com a amiga.
Contactada pela agência Lusa, fonte do Ministério da Administração Interna da Guiné-Bissau confirmou que está a ser estudada legislação sobre o uso da burca, mas o assunto está ainda em discussão.
É um "tema sensível" e que está a ser conciliado com os direitos cívicos, concluiu.
A Lusa tentou falar com mulheres que usam o véu integral, mas sem sucesso.
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Helena Said, 41 anos, ativista dos direitos das mulheres, apresenta-se como uma pioneira a usar véu islâmico na Guiné-Bissau, mas nunca um tipo de véu que a tapasse por inteiro.
Foi na década de 1990 que de livre vontade decidiu esconder o cabelo da vista dos homens, porque "esse sim" é o preceito defendido pelo Alcorão, refere.
O manto total nunca foi tradição entre os muçulmanos do país lusófono, mas foi adotado por algumas correntes do Islão e há cada vez mais pessoas a usá-lo na Guiné-Bissau - inclusivamente pessoas suspeitas de crimes, ao ponto de as autoridades islâmicas nacionais o desaconselharem por questões de segurança.
"Há gente a fazer mal com esses véus", usados como disfarce sob a justificação de preceitos religiosos, conta à Lusa o primeiro vice-presidente do Conselho Superior Islâmico da Guiné-Bissau, Alanso Fáti, referindo que foram já chamados pelo Ministério da Administração Interna.
O encontro aconteceu no final de 2014 e estavam em causa pequenos delitos, mas os riscos são maiores, face aos atos de terrorismo praticados por grupos radicais em países da sub-região como o Mali e a Nigéria e que são praticados de cara coberta.
Desde o alerta das autoridades, o Conselho Superior Islâmico tem feito declarações públicas em que desaconselha o uso da burca ou niqab, em nome da segurança do país.
"Não queremos fomentar essa ideia de que estamos só contra o véu. O que se passa é que estamos contra as gentes que estão a usar isso para fazer mal", sublinha Fáti.
Ao mesmo tempo, os dirigentes dizem estar vigilantes face ao risco de haver terroristas que se infiltrem nas comunidades muçulmanas do país.
"Não sei se os há aqui, mas temos cautelas para que esse mal não chegue à Guiné-Bissau", cuidados que consistem em "vigilância e tomadas de posição", diz Alanso Fáti, sem entrar em detalhes.
Estima-se que 40% da população guineense siga o islamismo, mas a burca nunca fez parte das tradições do país.
É antes o reflexo de influências externas que vão se instalando e criando novos seguidores entre os guineenses, como por exemplo, graças aos imigrantes de "países vizinhos", refere o antropólogo guineense Mamadú Jao.
Com "as questões que se colocam no mundo" relativas à segurança, aquele especialista em estudos africanos considera "perfeitamente legítimo" que se queira travar o uso da burca na Guiné-Bissau, onde o manto não tem raízes culturais.
Helena Said vai mais longe e, além da segurança, considera que a burca acaba com a vida social e intervenção cívica das mulheres.
"Há várias mulheres que a usam porque são forçadas pelos maridos", mas nem sempre é assim.
Outras usam-na porque querem, porque "foram sensibilizadas por outras mulheres ou porque estão nas escolas de quem usa burca", explica.
"Como podes cumprimentar alguém que não reconheces? Como é que um homem se pode apaixonar por uma mulher sem ver a cara? Ou como podemos saber se alguma sofre de violência doméstica", são questões que o véu integral pode deixar sem resposta, alerta Helena - da mesma forma que ficou sem saber o que se passou com a amiga.
Contactada pela agência Lusa, fonte do Ministério da Administração Interna da Guiné-Bissau confirmou que está a ser estudada legislação sobre o uso da burca, mas o assunto está ainda em discussão.
É um "tema sensível" e que está a ser conciliado com os direitos cívicos, concluiu.
A Lusa tentou falar com mulheres que usam o véu integral, mas sem sucesso.