"Devíamos
estar no terreno", mas falta dinheiro e a instabilidade política dos
últimos meses adiou o apoio de parceiros, disse à Lusa, Jeremias Arlete,
diretor-geral do Centro Nacional de Coordenação da Ação Anti-Minas.
"Em
agosto, devíamos ter recebido uma equipa de peritos" indicada pela União
Europeia (UE) para avaliar as operações a financiar.
No entanto,
a demissão do Governo pelo Presidente da República e o impasse político que se
criou levou ao adiamento da visita, agora sem data marcada, queixa-se aquele
responsável.
Jeremias
Arlete já pediu ao novo Governo, entretanto empossado em outubro, para que o
centro receba um valor base a partir do Orçamento de Estado, que lhe permita
funcionar até chegarem os apoios de parceiros.
Aquele
responsável revela um cenário que exige cautelas.
Segundo
refere, a Guiné-Bissau tem ainda nove campos de minas por limpar numa área de
um milhão de quilómetros quadrados, com base em dados recolhidos pelo centro e
apresentados num encontro com doadores internacionais, em março, em Bruxelas.
Há ainda
outras cinco áreas de concentração de engenhos explosivos (tais como granadas,
morteiros e outros) e 43 zonas suspeitas.
Tudo é
resultado da guerra colonial (1963-1974), da guerra civil (1998-1999) e do
conflito de Casamança (na fronteira norte do país), ainda por sanar, mas longe
do auge.
"Há
trabalho para mais quatro anos, pelo menos", realça João Gomes, comandante
de operações do centro.
As
comunidades que vivem junto das zonas perigosas estão avisadas sobre a
situação, mas todos os anos há relatos de acidentes com vítimas mortais.
Jeremias
Arlete considera ter sido "precipitada" a declaração de dezembro de
2012, do governo de transição da Guiné-Bissau, ao anunciar na que o país estava
livre de minas.
Prova disso
são os rebentamentos que têm acontecido, sendo o mais grave o que matou 24
pessoas e feriu outras oito, a 26 de setembro de 2014.
Um veículo
de transporte coletivo seguia por um caminho degradado, de terra batida, entre
Bissorã e Encheia, no interior do país, quando ativou uma mina antitanque.
A zona está
sinalizada entre os locais de risco no mapa do Centro de Ação Anti-Minas.
Depois do
acidente, o centro saiu da paralisia e foi reativado, Jeremias Arlete foi
nomeado diretor-geral e desenvolveu-se trabalho documental por forma a
antecipar os trabalhos no terreno, mas para os quais ainda não há meios.
As
intervenções previstas incluem ações de informação junto da população,
"através das rádios, sinalização e folhetos", explica Filomeno Graça,
do departamento de sensibilização.
Para
circular nalgumas zonas mais remotas, "ainda é preciso muito
cuidado", concluiu.
O risco é
referido no relatório de segurança de 2015 sobre a Guiné-Bissau, elaborado pelo
Departamento de Estado norte-americano.
O documento
alerta para o facto de haver "milhares de minas deixadas no terreno"
em diferentes regiões -- sendo que a capital é considerada livre de minas.
De acordo
com relatos recolhidos desde 2006 pela agência de informação humanitária IRIN,
já foram encontradas minas chinesas, portuguesas, russas e espanholas na
Guiné-Bissau.
A estação
das chuvas (de maio a novembro) é a mais perigosa uma vez que as minas podem
mudar posição ao serem arrastadas juntamente com as terras, de acordo com os
testemunhos da população.
Mas o
combate à ameaça com ações no terreno continua suspenso.