O académico angolano António Luvualu de Carvalho, criticou hoje numa
conferência em Lisboa a posição da Nigéria durante a última crise
política e militar na Guiné-Bissau, em 2012.
"O ego da Nigéria estava muito em cima, não quis aceitar a situação
particular do apoio de Angola. Angola retirou-se mas agora vamos
acreditar que com a nova presidência e com o novo primeiro-ministro a
situação possa estabilizar", disse Luvualu de Carvalho sublinhando que o
chefe do Executivo da Guiné vai efetuar uma visita oficial a Luanda nas
próximas semanas.
O coordenador-adjunto do curso de Relações Internacionais da
Universidade Lusíada de Angola participava num colóquio sobre a "Angola e
a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos" que
decorreu hoje na Universidade Lusíada em Lisboa.
Questionado sobre as relações entre Angola e a Nigéria no quadro
regional e, sobretudo na última crise política e militar guineense,
Luvualu de Carvalho recordou que Bissau pediu apoio a Angola, antes do
golpe de Estado de 12 de abril de 2012, numa altura em que as forças
armadas guineenses "precisavam de apoio".
"Chegadas a Bissau, as forças angolanas encontraram um exército com
pessoas muito mais velhas, sem pensões, sem serviço de saúde, sem
quartéis para viver e Angola empenhou os seus meios, inicialmente 30
milhões de dólares (26,93 milhões de euros) complementada de outra ajuda
de 80 milhões de dólares (71,83 milhões de euros) para construir
quartéis novos, para pagar salários e também para ajudar na proteção nas
fronteiras da Guiné-Bissau", afirmou.
Segundo o analista político, após o golpe de Estado, as autoridades
nigerianas, apesar de não terem condições para acudir à Guiné-Bissau
preferiram fazer "um finca-pé diplomático" incitando outros países da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e pressionaram as
autoridades angolanas a retirarem o contingente de 350 formadores
militares que se encontravam em Bissau.
"Na altura, a Guiné-Bissau ocupava no rating internacional dos
Estados falhados o segundo lugar, logo após a Somália. Portanto, era um
não-Estado. A Guiné-Bissau era uma parcela de terra. Não tinha nada, não
tinha organização de Estado e as autoridades angolanas foram fazendo
essa organização juntamente com a Guiné-Bissau", disse.
Para o académico, os narcotraficantes serviam-se da Guiné-Bissau como
placa giratória para a receção da droga da Colômbia que era depois
distribuída na Europa e também nos Estados Unidos e que encaravam as
autoridades angolanas como um "empecilho" porque, afirmou, as forças da
Guiné-Bissau que passaram a ser um grupo de homens instruídos, fardados,
armados e motivados "deixaram de viver dos traficantes para viverem sob
a bandeira do Estado".
Os traficantes, afirmou, foram pressionando as autoridades da
Guiné-Bissau que não conseguiram lidar com o problema e fizeram alianças
que o Departamento de Estado norte-americano qualificou como sendo
ligações com narcotraficantes tendo sido preso, nesse contexto, o chefe
de Estado Maior da Marinha.
"Bubo Na Tchuto foi capturado em águas internacionais porque o
departamento de luta anti droga dos Estados Unidos da América acusou -
com provas -- a parte traficante do Exército da Guiné-Bissau que
utilizava armas para trocar por cocaína", disse o antigo ministro.
A partir do momento em que o contingente angolano saiu, a Nigéria
pressionou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) que aprovou a Missão Militar para a Guiné-Bissau que "nunca
chegou a sair do papel" tendo o país emergido no caos e na dependência
das drogas, disse o analista.
Participaram no debate, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros,
António Martins da Cruz e Francisco Ramos da Cruz, adido militar adjunto
da Embaixada de Portugal de Angola em Lisboa.