A
crise no Burkina Faso deu a hipotese de se dar uma lição de dignidade à
CEDEAO. Uma
bofetada à figura da displicência e condescência aos golpes
de estado, com a rejeição
incondicional do povo burkinabé à proposta de
saida para a crise apresentada pelo
presidente em exercicio dessa
organização e o mediador da crise, respectivamente
os presidentes
senegales Maky Sall e béninês Yayi Boni.
Quiça
pensando que o Burkina é a passivel e submissa Guiné-Bissau onde tudo é
lhes
permitido, e na pressa de se resolver a crise que ameaçava
emsombrar ainda mais a
sub-região, o presidente em exercicio da CEDEAO,
pesou, entre o protagonismo imediato
de sanar a situação ou o agudizar
latente da situação, para sair-se airosamente. Pesou,
mas pesou muito
mal, desacreditando-se pelo amadorismo da solução apresentada e
não
deixando simpatias pela insensibilidade e falta de respeito demostrado
para com
as aspirações do povo do Burkina Faso.
Na
verdade, desonrientao com o peso da ponderação, acabou Macky Sall, por
enveredar
pelo pior caminho, propondo levianamente a solução cosmética
da troca entre a reposição
do presidente da transição Sr. Kafando,
ignorando cinicamente o PM, Issak Zida, em troca
de uma amnistia para os
golpistas do Regimento da Segurança Presidencial (RSP), assim
como o
bonus que permitiria a participação dos pro-Campaoristas no proximo
pleito eleitoral.
Enfim, um alinhamento perfeito com as pretensões
golpistas e almejos campaoristas.
Um
calculo mal equacionado e uma proposta mal pensada em termos de
consequências,
pois a sociedade civil burkinabé, bem instruida e
patrioticamente engajada, reagiu muito
mal à mediação. Assim, não so,
rejeitaram liminarmente a proposta do presidente mediador, reclamando,
que os pro-Campaoré sejam afastados do proximo pleito eleitoral,
igualmente,
o desmantelamento do RSP considerado um instrumento de
instabilidade ao serviço do
ex-presidente Blaise Campaoré e, por fim,
hostilizaram e velipendiaram a mediação da
CEDEAO, em particular a
posição do seu presidente em exercicio, ao ponto deste se sentir
constrangido, não participando na cerimonia de reposição das autoridades
da transição.
Esse
exemplo de coragem e de dignidade do povo burkinabé, leva-me à
confissão de que
até hoje, não consigo esquecer o vexame e a humiliação
que nos impôs a CEDEAO apos
o golpe politico-militar de abril 2012,
onde, apos um primeiro figurino de intransigência
sobre o principio da
tolerância zero contra os golpes de estado, à reviravolta, com os jogos
de interesses a prevalecerem à vontade popular, apoiando e caucionando o
golpe e um
regime de transição da pior espécie que o pais conheceu. Até
hoje, as cenas de prepotência
e desmandos dos enviados especiais dessa
organização no decurso da camuflada mediação
ainda povoam a minha
memoria e agridem o meu patriotismo.
E
certo que, nessa cabala, contribuiram e foram cumplices os principais
actores da nossa
classe politica, cujo pendor colaboracionista e de
prostituição na luta pelo poder, foi mais
uma vez evidente, atingindo no
caso concrecto niveis da indecência e promiscuidade sem
igual, pois n
altura, mais do que pessoas com quem se degladiavam politicamente,
estava
em causa a nossa soberania e o exercicio livre e democratico de
um povo para escolher
livremente os seus dirigentes. Nada disso foi
respeitado nem tido entao em conta pela CEDEAO…porque o potencial
vencedor não lhes fazia confiança, nem representava o
seu circulo de
interesses.
Exemplos
de coragem e dignidade dessa envergadura, deviam ser louvados e
seguidos
pela nossa Sociedade Civil, a qual, em primeira linha, devera
dispor-se a posicionar-se
na linha da frente a fim de defender os
pilares da democracia, quando ameaçados ou
desrespeitados por quaisquer
forças ou interesses alheios à causa e à dignidade do
povo guineense.Ontem,
na primeira reuniao do Conselho de Ministros do Governo da
Transicao
tomou-se à corajosa decisao de se dissolver e desmantelar o RSP, foco de
todas as tensoes, golpes e assassinatos que se verificaram nesse pais
durante mais
de 20 anos. Lembrar
a nossa Transição Colaboracionista e de calcas pelas maos
compreendo
melhor à diferenca entre os politicos guineenses e burkinabes.
Obrigado ao povo do Burkina Faso pelo exemplo de dignidade e coragem.
ANÓNIMO