In Jornal de Angola Online
Eleições presidenciais e legislativas antecipadas parecem ser a única
solução para a crise política e institucional guineense, provocada,
segundo muitos analistas, por aquele que, à luz da lei, devia ser o
primeiro elemento aglutinador da Guiné-Bissau, o Presidente José Mário
Vaz.
Esta conclusão resulta da percepção de que o comité inter-parlamentar
para a paz e prevenção das crises na África Ocidental que reúne em
Bissau com o Supremo Tribunal de Justiça, representantes da ONU e da
União Europeia no país e com o Presidente José Mário Vaz após reunir-se
com a mesa do Parlamento, partidos aí representados e organizações da
sociedade civil deve falhar a tentativa de mediação do impasse político
na Guiné-Bissau, salvo um milagre.
Salvo um milagre porque não é a primeira vez que uma organização internacional tenta mediar o impasse político na Guiné-Bissau. A
Organização das Nações Unidas (ONU) tentou com três enviados especiais
(José Ramos-Horta, Miguel Trovoada e agora Modibo Touré), a CPLP através
do seu secretário Executivo, Murade Murargy, e a Comunidade Económica
da África Ocidental (CEDEAO) através do antigo Chefe de Estado
nigeriano, Olosegun Obasanjo. Todos fracassaram.
A conclusão também
resulta da percepção de que o Presidente guineense e o PRS não colocaram
os interesses nacionais acima dos seus ao rejeitarem a proposta do
PAIGC segundo a qual ficava com 18 pastas ministeriais num universo de
34 e cedia 16 a outras forças: oito ao PRS, três aos restantes partidos
com assento parlamentar, duas à Presidência da República, outras tantas a
partidos políticos sem assento parlamentar e uma à sociedade civil.
A
proposta, uma resposta aos apelos do Presidente José Mário Vaz por um
Governo mais abrangente e inclusivo, de incidência parlamentar, foi
enviada com outra: um Pacto de Estabilidade a assinar publicamente por
todos os partidos políticos com representação parlamentar, ignorada pelo
Presidente guineense José Mário Vaz, que preferiu nomear como
primeiro-ministro Baciro Djá, deputado dissidente do PAIGC.
Existiam três cenários para o fim da crise guineense.
O
primeiro e o ideal - o PAIGC formar um governo com aval do Chefe de
Estado e do Parlamento guineense - ficou inviabilizado após José Mário
Vaz convidar o PRS a formar Governo e dar posse a Baciro Djá como
primeiro-ministro.
Este, de resto, é o segundo e pior cenário porque
significa que o partido a quem o povo deu maioria absoluta para governar
não governa, o que é um desrespeito à vontade do povo guineense
manifestada nas urnas. Ao dar maioria absoluta ao PAIGC, os eleitores
guineenses criaram condições para o partido governar, mas dirigentes
políticos com fins inconfessos impedem que um Parlamento destinado a
funcionar sem bloqueios não funcione.
Este pode também ser
considerado um “não cenário” porque é ilegal. Na Guiné-Bissau só forma
governo o partido que vence as legislativas. No caso do partido que
governa perder a confiança de alguns deputados por si eleitos e não
encontrar consenso interno, a única solução é a realização de eleições
legislativas antecipadas.
Dado o quadro actual, as eleições
antecipadas, legislativas e presidenciais, são o único cenário possível
para o fim da crise e devem ser convocadas mais cedo ou mais tarde, e
com menor ou maior dificuldade, pelo Presidente guineense.
Eleições
presidenciais parecem ser tão necessárias quanto as legislativas porque
na eventualidade de o PAIGC vencer eleições legislativas antecipadas a
coabitação com o actual Presidente não era possível e o país voltava a
estagnar.
A dissolução da Assembleia Nacional Popular guineense e a
realização de eleições antecipadas, que segundo o líder do PAIGC,
Domingos Simões Pereira, estão avaliadas em dez milhões de dólares, não
é o caminho mais desejado, mas parece ser o mais propício para devolver
a estabilidade necessária para o futuro da Guiné-Bissau.