quinta-feira, 3 de setembro de 2015

OPINIÃO: JOMAV UM PROJETO TIRÂNICO PRESTES A CAIR

As decisões do Presidente da República que se traduziram no derrube do governo e na nomeação de Baciro Djá para o cargo de Primeiro Ministro, à revelia da vontade do partido mais votado nas eleições legislativas, colocam a nu pretensões - até agora obscurecidas - que têm como objectivo principal uma mudança de regime na Guiné-Bissau. Hoje é óbvio que o Presidente tem em marcha um projecto tirânico que visa a implantação de um sistema político Presidencialista Autocrático e Totalitário.

Esta pretensão, entre outras coisas, merece a nossa atenção em três aspectos fundamentais:

1.      deslealdade face às legítimas aspirações do povo guineense;
2.       insustentabilidade em termos institucionais;
3.      deslegitimação da figura do Presidente JOMAV enquanto digno representante do povo e do país.

Sobre o primeiro ponto, o Presidente da República, vulgo JOMAV, tem demonstrado um profundo desprezo em relação às aspirações do povo guineense. Este facto é tanto mais grave na medida em que o Presidente JOMAV as conhece e até as reconheceu, quando inflamou essas mesmas aspirações, no momento em que pretendia chegar ao poder.

Enquanto candidato, JOMAV, nos seu discursos, investiu insistentemente nas ideias de estabilidade e confiança. Esse investimento, no domínio da retórica, ganhou corpo nas promessas que jamais derrubaria o governo e na ideia da força da dupla JOMAV/DSP, enquanto garante do desenvolvimento. Naturalmente, todo esse processo não foi inocente.


Por um lado, JOMAV percebeu que povo votaria num projecto que garantia a estabilidade política, sendo que essa estabilidade pressupunha o cumprimento do mandato do governo eleito. Por outro lado, era importante absorver parte do enorme capital político do Domingos Simões Pereira, de modo a projectar a sua própria imagem.

As promessas feitas no período eleitoral e a anexação ao capital político do futuro Primeiro Ministro, mostram não só uma estratégia para ganhar votos, mas também um reconhecimento daquilo que é a vontade popular. Nesse sentido, podemos afirmar, sem qualquer assombro, que JOMAV sabe quais são as aspirações do povo, soube instrumentalizá-las quando precisou e agora, que pensa que já não precisa desse suporte, ignora e despreza as manifestações, cada vez mais audíveis, do povo.
   
Estamos perante um cenário vergonhoso de deslealdade e de falta à palavra dada, pois toda esta situação, despoletada pelo Presidente, tem garantido, justamente, o contrário do que havia prometido. Agora o que temos é a instabilidade e a desconfiança nas instituições.

Em relação ao segundo ponto, podemos observar que toda esta deriva autocrática do Presidente é completamente insustentável em termos institucionais. Como já referi, o Presidente tem um projecto em marcha: a implantação de um regime Presidencialista Autocrático e Totalitário. Nesse sentido, JOMAV é um ditador em potência. Em rigor, é, nesta fase, um projecto de ditador.


Para consolidar a sua condição de ditador, JOMAV, precisaria de:

a)      Controlar e dominar as forças vivas da nação. Entenda-se: órgãos de soberania; partidos políticos; forças armadas; organizações da sociedade civil.
b)     Garantir apoios de uma certa comunidade internacional, numa lógica de reciprocidade.

Ora, nenhuma destas condições se encontram asseguradas. No plano interno, não consegue controlar nem dominar as forças vivas do país. Aliás, nunca se viu, na Guiné-Bissau, tamanha conjugação de esforços de oposição a um Presidente da República.

Para colher apoios a nível interno, o projecto de ditador e o seu séquito de usurpadores têm tido como estratégia, modelos arcaicos que visam a compra de "consciências"  e o tráfico de influências, com o objectivo de ultrapassar o presente imbróglio de inconstitucionalidade e de ilegalidade. Nada disto é sustentável, na medida em que se trata de uma estratégia alicerçada em fidelidades compradas. O problema desse tipo de fidelidade é, justamente, a sua volatilidade e a sua permeabilidade a outras alianças que, eventualmente, tenham mais para oferecer. Nesse sentido, é uma estratégia que tem a pretensão de encher "sacos rotos". Desde já, uma impossibilidade anunciada.

No plano internacional, um regime Presidencialista Autocrático e Totalitário só poderá convocar apoios de regimes semelhantes, o que, no imediato, provocará uma situação de isolamento relativo e de descrédito face aos habituais parceiros. Outro aspecto relevante é a impossibilidade de garantir um relacionamento baseado na reciprocidade. Tal facto, considerando um quadro de isolamento relativo, ganha contornos de gravidade acrescida, pois as relações bilaterais com regimes semelhantes, numa situação de evidente desigualdade económica, é um convite declarado à subalternização e à transformação da Guiné-Bissau numa espécie de colónia desses mesmo regimes.

Para finalizar, o terceiro ponto. Esta deriva do Presidente JOMAV desrespeita o povo martirizado da Guiné-Bissau, desrespeita as conquistas democráticas do Povo Guineense e promove a instabilidade, o sub-desenvolvimento e a desintegração social. Um Presidente que provoca tudo isto, perde a legitimidade enquanto digno representante do povo e do país. Passa a ser um presidente subsidiário e dependente de um clube exclusivo de "amigos", lacaios e "sacos rotos".

Em suma, considerando todos estes pontos, podemos entender que nos encontramos perante um projecto tirânico frágil e em vias de falhar. Um projecto alicerçado na deslealdade, na fragilidade face às instituições e na falta de legitimidade política, jamais terá condições objectivas para se consolidar.

GPN