quinta-feira, 3 de setembro de 2015

OPINIÃO: A OCASIÃO NÃO FAZ O LADRÃO: O PRS FACE ÀS DIFICULDADES DE POSICIONAMENTO OU PRELÚDIO DE OPORTUNISMO POLITICO SEM GLÓRIA?

Volvidos 20 dias após a tentativa fracassada de formação de um governo de iniciativa presidencial dissimulado, o Bureau Político do PAIGC antecipou-se procurando blindar alguma fidelidade dos seus notáveis à uma linha de orientação baseada na ética, coerência e sentido de justiça para que a governação seja exercida pelo próprio partido sob a liderança da sua direcção (mesmo que seja sem a liderança do seu presidente), algo que tem tido como impacto o desacreditar da falsa incursão presidencial e simultaneamente desgastando a frágil credibilidade na sua aposta na figura do Primeiro-ministro que se quer impor e a insustentabilidade da sua caminhada solitária marcada por timbre de compra de consciência.

Ora, a declaração do Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau de que ia fiscalizar a constitucionalidade do decreto que nomeia o Primeiro-ministro ilegal, não só inaugura uma nova fase na integração activa do poder legislativo na sua relação com a Sociedade Civil e com o Poder Judicial, bem como constitui um elemento fortemente inibidor aos projectos de mobilização e/ou associação às iniciativas ilegítimas e ilegais na ocupação de cargos políticos sem o devido merecimento, algo que vai influenciar a eliminação de apetites golpecráticos.

O recurso presidencial centra-se na segunda maior força política no Parlamento, o PRS, enquanto uma saída do beco. Mas perante a posição do Supremo Tribunal de Justiça, a aliança com o PAICG (e consequente participação deste partido no governo inclusivo deposto) e ainda a esperança de vencer as próximas eleições legislativas, o que podemos esperar do PRS?

O facto de o PRS ter manifestado dificuldades em posicionar-se com clarividência, adiando por três (3) ocasiões o anúncio da sua posição, embora de forma cínica vem se dizendo solidário ao PAIGC, é um comportamento pouco ético e de oportunismo de baixa qualificação e sem honra ao tratamento que foi dado no governo deposto e sem sentido de Estado para com as aspirações e anseios do povo, pois a ocasião não faz o ladrão. Por outro lado, mesmo que este partido queira actuar como um player, com a postura adoptada, a sua liderança perde um capital que vinha acumulando de seriedade e elevação política com todos os privilégios que lhe tem sido proporcionado como líder da oposição, contribuindo para com que abra espaço para ser conotado com um presidente pouco estruturado e mentalmente frágil, num partido complexado, oportunista e sem respeito ao seu discurso eleitoral, cujo seu poder caucionado com a legitimidade popular pode ser comprado com brindes (dinheiro aos deputados e lugares no governo aos dirigentes) em situação de opacidade e imoralidade de uma agenda pessoal e anti-democrática.

Nesta base, podemos projectar quatro (4) cenários passíveis de posicionamento da Comissão Política dos “renova-dores”:

1.  Participação no governo ilegal da iniciativa do PR com a promessa de ministérios à sua escolha e podendo chegar ao número mágico de 10 ministérios e secretarias de estado, mais uns trocos para os deputados viabilizarem o governo no parlamento  (PROBABILIDADE ALTA)
O foco seria o básico: Nomear um conjunto de amadores para os postos de directores-gerais, uns incompetentes e populistas bajuladores para administradores das regiões e angariar dinheiro para a campanha eleitoral. Esta opção levará a cristalização das divisões internas com crise de liderança e a derrota certa nas próximas eleições, podendo ainda deixar de ser a 2ª maior força política e transformando-se num partido regional (Oio e Tombali). Com isto, o Primeiro-ministro deposto corre o risco de ser o político mais popular dos últimos 15 anos da democracia guineense devido à dupla traição que foi vítima (PAIGC+PRS), abrindo-lhe o caminho para ser elegível a qualquer cargo que venha a concorrer futuramente no país, incluindo de Presidente da República.

2.  Recusar a participação no governo ilegal da iniciativa do PR + Integrar um governo do PAIGC, mesmo sem a liderança do DSP – (PROBABILIDADE ALTA)
Ao assumir esta posição, o PRS aumenta a sua capacidade no governo não só em número de pastas, mas também em um ou dois ministérios chaves (Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares / Negócios Estrangeiros / Administração Interna / Defesa / Justiça). Com esta opção o PRS salvaguarda a sua condição de fiel da balança e alternativa credível ao PAIGC. Quem ganha em termos de figura de proa será o seu Secretário-geral como potencial chefe do governo no futuro.

3.  PR esgota as possibilidades de entendimento com o PAIGC e convida o PRS a formar Governo – (PROBABILIDADE MÉDIA)
Esta solução é possível mas a mais complexa, pois obrigaria o PR a demitir o seu PM ilegal (fracturando ainda mais o seu reduto de oportunistas), algo que poderá acontecer com a confirmação da inconstitucionalidade do decreto ou com uma moção de censura ou a não aprovação do programa do governo ilegítimo no parlamento. Se, chegados aqui, a capacidade negocial do PRS se mostrar idêntica à do PAIGC, na sua forma e conteúdo – chamariam, neste caso, o PAIGC e outros partidos com representação parlamentar para a formação e viabilização de um governo de inclusão II, como forma de salvar a legislatura. Neste formato não é evidente a vitória eleitoral do PRS, mas consolidar-se-á o seu lugar de oposição, quebrando a maioria absoluta do PAIGC. Este cenário contribuiria para a renovação política dos principais partidos com tradição parlamentar e aqui pode-se ensaiar um novo pacto de estabilidade política e governativa.

4.  PRS recusa integração e entrada em qualquer governo até ao fim da legislatura/eleições antecipas – (PROBABILIDADE BAIXA)
Conhecendo a postura profissional e ética da maioria dos políticos guineenses desde a liberalização política até a actualidade, são muito poucos que conseguiriam sobreviver a esta abstinência, tendo em conta o seu alto nível de inqualificação moral e técnica associado ao hábito de serem sempre ministeriáveis sem que o possam ou mereçam. A cultura de showmícios e comercialização de votos constituem os principais elementos de obstáculos para a concretização deste cenário. Contudo, há adeptos desta corrente na bancada parlamentar dos renovadores, mas são pouquíssimos e sem grande influência no Conselho Nacional. Mas é com a adopção deste cenário que o PRS garantiria a sua maior vitória eleitoral enquanto partido maduro e com sentido patriótico a serviço do país.