quarta-feira, 20 de abril de 2016

PRIMÁRIAS EUA: NOVA IORQUE FOI UM PASSEIO PARA TRUMP E CLINTON


Andreia Martins - RTP 20 Abr, 2016, 11:05 / atualizado em 20 Abr, 2016, 11:20 | Mundo

Sem grandes surpresas, Donald Trump e Hillary Clinton alcançaram importantes vitórias na noite de terça-feira, rumo às nomeações pelos respetivos partidos. A antiga secretária de Estado alcançou uma vitória de dois dígitos, com 57,9 por cento dos votos, enquanto o magnata republicano foi esmagador e obteve 60 por cento. Resultados que permitem às duas candidaturas confirmarem o favoritismo.

Pelo simbolismo mas também pelo número de delegados que estão em causa, Nova Iorque é determinante para acelerar o passo rumo às eleições de novembro. As sondagens apontavam, de facto, para a vitória de Donald Trump e Hillary Clinton, mas os resultados foram ainda mais expressivos. 

Donald Trump obteve 60,5 por cento dos votos, contra apenas 25 por cento de John Kasich. Ted Cruz, o principal adversário do magnata norte-americano, ficou-se pelos 14,5 por cento, um número que não chegou sequer para eleger delegados. Trump deixa Nova Iorque com mais 89 delegados, enquanto Kasich conseguiu mais três na sua conta pessoal, que é contudo pequena para fazer frente ao favorito dos republicanos (apenas 147 delegados).
 
Também Hillary Clinton conseguiu marcar terreno para a nomeação pelos democratas. Depois de sete derrotas consecutivas para Sanders nas últimas votações, a antiga primeira-dama dos Estados Unidos chegou a uma das mais folgadas vitórias desde o início das eleições primárias, em fevereiro, com 57,9 por cento dos votos. Bernie Sanders ficou-se pelos 42,1 por cento, numa desvantagem de dois dígitos que há muito Clinton não alcançava. 

Nova Iorque é um dos Estados com maior número de delegados em disputa, com 95 para o lado republicano e 247 para os democratas. Somente a Califórnia, que vai a votos dia 7 de junho, suplanta estes números, com 172 delegados no Grand Old Party e 546 no Partido Democrático.

As contas

Segundo a contabilização atual, Donald Trump conta com 845 delegados, cada vez mais próximo dos 1.237 necessários para garantir a nomeação antes da Convenção do GOP, em julho. Mais distante, Ted Cruz reúne apenas 559 delegados. Há 734 delegados ainda por disputar.

Do lado democrata, a nomeação também parece agora mais previsível. Hillary Clinton conta com um total de 1.893 apoiantes (dos quais 469 são superdelegados). Bernie Sanders, que tem surpreendido sobretudo nas votações por caucus, autênticas assembleias gerais em que é o entusiasmo dos apoiantes que se sobrepõe, tem apenas 1.149 apoios garantidos, uma desvantagem que advém do menor número de grandes figuras do partido ao seu lado (apenas 31 superdelegados). 

Para garantir a nomeação antes da convenção, Clinton terá a tarefa aparantemente simples de atingir 2.383 delegados e superdelegados, entre os 1.692 que continuam por atribuir. 
Discursos mais serenos 
No mais cosmopolita dos Estados, quase todos os candidatos jogavam em casa. Talvez por essa razão as vitórias ou derrotas ressoem com maior impacto nas máquinas partidárias e nos discursos proferidos depois de conhecidos os resultados. 

Diretamente a partir da Trump Tower, na cidade onde construiu o seu império imobiliário e financeiro, o sempre polémico Donald Trump assumiu-se desde logo como grande vencedor da nomeação republicana e referiu que as forças convencionais do seu partido "estão em apuros". Desde o arranque do processo eleitoral que o establishment republicano tem procurado evitar a nomeação de um candidato considerado pouco convencional e que está longe de conseguir alcançar a vitória nas eleições gerais, de novembro.

Mas talvez já a pensar precisamente em novembro, Donald Trump fez um discurso mais controlado após a vitória de terça-feira. O New York Times destaca que o magnata "parecia um candidato diferente" e fez o seu discurso "mais presidencial" até à data. Ao invés de atacar os restantes candidatos ou Clinton, Trump focou-se em questões de mercado, economia e desemprego. 

Aparentemente longe de uma candidatura que já teve como propostas construir muros e impedir a entrada de muçulmanos, Donald Trump procura agora amadurecer e profissionalizar a campanha, como escreve o Washington Post. Mesmo no Twitter, onde habituou os seus seguidores a um discurso irascível, há um Trump mais calmo e controlado. O slogan, esse, continua a ser o mesmo: Make America Great Again.

Uma "vitória pessoal"

Hillary Clinton, entre os democratas, conseguiu sobrepor-se a Bernie Sanders. O candidato natural de Brooklyn chegou a estar a apenas dois pontos de distância nas sondagens que antecederam a votação. Mas a derrota acabou por ser muito mais expressiva, numa região onde o voto feminino e de faixas etárias mais avançadas foram determinantes. Em 2008, quando concorreu à nomeação contra Barack Obama, Clinton venceu o Estado com uma diferença de 17 pontos percentuais.

Na cidade onde foi senadora por oito anos, entre 2001 e 2009, a antiga primeira-dama e secretária de Estado foi recuperar o momentum que a sua campanha havia perdido. Confirmada a vitória, Clinton respondeu com afeto aos seus apoiantes, que a receberam em plena apoteose: "Hoje ficou novamente provado. Não há nenhum sítio como a nossa casa. Neste campanha, temos vencido em várias regiões do país, de norte a sul, de leste a oeste. Mas esta vitória é pessoal", disse a candidata.     Clinton não dá a nomeação como garantida, mas as palavras dirigidas ao único adversário são mais mansas. Sem deixar de lhe apontar críticas por "ideias políticas muito vagas" e sem medidas concretas para resolver os problemas, a antiga secretária de Estado reconheceu: "É muito mais o que nos une que aquilo que nos separa".    

Na próxima terça-feira, dia 26 de abril, os principais candidatos na corrida à Casa Branca voltam à estrada. Os republicanos votam no Delaware, Maryland e Pensilvânia, enquanto os democratas votam, para além destes, no Connecticut e em Rhode Island.