Lusa 04 Abr,
2016, 09:28 | Mundo
Um
investigador alemão considerou que a atual crise política na Guiné-Bissau deve
manter-se, já que "as lutas pelo poder vão continuar", acrescentando
que o Presidente guineense não tem contribuído para a estabilização da situação
no país.
"O
Presidente parece insatisfeito com o seu papel na política guineense porque ele
tem um posto meramente representativo mas quis ter mais influência na política.
O Presidente vai continuar a não contribuir para a estabilização da situação
porque, no fundo, foi ele que iniciou toda esta crise", referiu Christoph
Kohl, especialista em tópicos relativos à Guiné-Bissau.
Em
declarações à agência Lusa, o investigador da Fundação alemã de Estudos da Paz
e Mediação de Conflitos (Hessische Stiftung Friedens und Konfliktforschung)
disse "ser muito difícil ver uma saída deste impasse", mas aplaudiu o
contributo da diplomacia internacional para a estabilização da crise na
Guiné-Bissau.
"Os
fatores de instabilidade estão lá, mas há uma forte pressão de vários lados para
escolher uma resolução pacífica e democrática. A comunidade internacional
pressionou o Governo guineense e atores políticos para escolherem caminhos
pacíficos", referiu.
Delegações
do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), da União Africana, da União
Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) e da Comunidade Económica
para o Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) visitaram
Bissau para acompanharem a crise política que se vive no país.
O académico
frisou também que a sociedade civil guineense tem tido um papel fundamental na
atual conjuntura "porque tem procurado um caminho pacífico para a sua
resolução", tal como a população "que não está satisfeita com o modo
governativo do Presidente".
"A
população é capaz de falar das questões políticas de uma forma aberta, que é
algo que não se vê em Angola, por exemplo. Claro que existem muitas falhas nas
administrações públicas, polícia, militares, justiça, existe muita corrupção.
Contudo, também vemos muitos atores do Estado e fora dele a tentarem encontrar
soluções para as falhas do país", acrescentou.
Kohl
acrescentou que as marcas do colonialismo ainda estão presentes na Guiné-Bissau
e que se podem traduzir em abusos de poder e posturas autoritárias.
"Existem
muitas pessoas que ainda revelam uma atitude autocrática, que são
reminiscências da época do colonialismo. Mas é importante referir que durante o
colonialismo, Portugal vivia numa ditadura. Como podiam os guineenses aprender
sobre democracia, se Portugal vivia numa ditadura?", questionou o
académico.
A
Guiné-Bissau encontra-se numa crise política desde agosto de 2015 quando o
Presidente, José Mário Vaz, destituiu o então primeiro-ministro, Domingos
Simões Pereira, dando início a um confronto político com o PAIGC, partido do
Governo, afetando o funcionamento do Parlamento e de outras instituições do
país.