sábado, 25 de abril de 2015

DISCURSO DA MINISTRA DA JUSTIÇA EM MOSCOVO


República da Guiné-Bissau

Ministério da Justiça

Gabinete da Ministra

Excelências Senhores Ministros,
Excelência Senhor Yuri Fedotov, Director Executivo do UNODC,
Excelência Senhor Victor Ivanov, Director do FDCS (Serviço Federal de Controlo da Droga da Federação Russa)

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com grande prazer que tenho a honra de me dirigir a esta magna assembleia para partilhar as experiências e a visão do meu país em relação aos impactos na segurança global do flagelo do narcotráfico, que tem afectado a estabilidade mundial e ao qual a Guiné-Bissau não escapou. 


Por conseguinte, começo por agradecer o governo da Rússia por ter convidado a Guiné-Bissau a participar nesta 2.ª Conferência Ministerial de Moscovo Contra a Droga, intitulada "O impacto das drogas na Segurança Global e no Desenvolvimento sustentável".


Excelências,
Na Guiné-Bissau, a origem do fenómeno remonta aos anos 80, quando começou a circular droga do tipo canábis (liamba), introduzida por cidadãos oriundos dos países da sub-região, consumida sobretudo nas principais cidades do país. O aumento de perturbações psiquiátricas associadas, principalmente entre os jovens, despertou a sociedade e as autoridades guineenses para os perigos do consumo de droga.


A inércia legislativa, associada à ausência de informação e ao desconhecimento do público sobre os malefícios da droga para a sociedade, levou à disseminação do tráfico. Com a introdução das drogas pesadas e mais rentáveis, sobretudo a cocaína, acentuadamente a partir de 2005, a situação do país ganhou repercussão internacional, motivando o crescente interesse de cartéis da droga sul-americanos na utilização do país como placa giratória e para depósito e trânsito para Europa. 


Atraídos pelas condições geográficas do país, composto por cerca de 88 ilhas, na sua maioria desabitadas, essas redes internacionais de tráfico de droga viram relativamente facilitada a implantação de pontos de armazenamento e de trânsito de cocaína, sobretudo atendendo à fraca capacidade de controlo e à corruptibilidade das estruturas estatais.


Excelências,


O nosso país conheceu momentos de grande instabilidade política e social, tornando-se palco de interesses e disputas pelo domínio de alguns sectores-chave do Estado, com vista ao controlo do lucrativo tráfico de drogas. Sucessivos episódios trágicos, marcados por golpes de Estado cíclicos e assassinatos de altas figuras no exercício das suas funções, contribuíram para a apelidação de Narco-Estado, por parte de alguns analistas internacionais e para um maior enfraquecimento do já de si frágil aparelho de Estado.
Consciente do CARÁCTER TRANSNACIONAL DO FLAGELO e cientes das limitadas capacidades internas para fazer face aos desafios que se lhe colocavam, o então Governo em exercício organizou uma mesa redonda em Lisboa no ano de 2007, como forma de associar os parceiros internacionais à definição de estratégias conjuntas e vigorosas, as quais culminaram com a elaboração de um Plano Operacional para a Prevenção e o Combate ao Narcotráfico, associado à promoção do Estado de Direito e eficaz administração da Justiça.


Nesse contexto, o país aderiu à INICIATIVA DA COSTA OCIDENTAL AFRICANA (WACI) 2008-2011 assumida como um reforço desse Plano, no âmbito da CEDEAO, com a criação da Unidade de Combate ao Crime TRANSNACIONAL (UCT) em 2010, com vista ao reforço das entidades já existentes. Recentemente, o Governo atribuiu instalações próprias à UCT, para que possa organizar e exercer melhor as suas funções, em coordenação com a Polícia Judiciária, enquanto entidade com competência exclusiva em matéria de tráfico de droga e criminalidade transnacional.


O PLANO ESTRATÉGICO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA (2015-2020), actualmente em curso, reflecte a visão estratégica do nosso governo no que concerne ao combate do tráfico de drogas e pretende responder com acções claras à necessidade de uma resposta efectiva e antecipada à expansão de crimes correlacionados, como o terrorismo, cuja ameaça tem vindo a aumentar.


Estes factos fundamentam a necessidade de rever a eficácia da política legislativa em matéria do combate ao tráfico de droga, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, a qual deve considerar a especificidade da sub-região, mormente no que toca à debilidade do controlo transfronteiriço decorrente da livre circulação de pessoas e bens ao nível da Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental (CEDEAO).


Minhas Senhoras e Meus Senhores,


Os impactos do tráfico de droga, nomeadamente a lavagem de capitais, o financiamento do terrorismo, acerto de contas e guerra pelo poder traduzindo-se em homicídios de alto nível, etc., são factores que colidem seriamente com a segurança global e põem em causa a estabilidade nacional.


A desestabilização das instituições Estatais implicou em muitos casos, o envolvimento directo de agentes do Estado na prática do crime, minando a autoridade e o poder do Estado. No entanto, como consequência de eleições reconhecidas como livres, que deram origem à tomada de posse de autoridades legítimas, A GUINÉ-BISSAU VIVE HOJE UM NOVO CENÁRIO POLÍTICO E SOCIAL, que se pretende como uma reviravolta ao nível da consolidação do Estado de Direito.


A recente adopção de um PROGRAMA DE REFORMA DO SECTOR DA JUSTIÇA 2015-2019, contempla o combate à impunidade e a reforma do quadro legal, nomeadamente no que tange a elaboração de medidas penais relacionadas com crimes transnacionais. 


Aproveitamos este nobre ensejo para reiterar e necessidade de apoios para dotar a justiça com meios materiais e humanos suficientes, garantindo assim uma consistente implementação da firme determinação da República da Guiné-Bissau no combate ao Narcotráfico, lembrando que passaremos brevemente a dispor de um maior controlo de pessoas ao nível do aeroporto, com a entrada em funcionamento de uma CAAT (AIRCOP), com o apoio da UNODC.


Não poderia terminar sem frisar a importância e relevância da assinatura de um ACORDO DE COOPERAÇÃO COM O SERVIÇO FEDERAL DA RÚSSIA DE CONTROLO AO NARCOTRÁFICO, à margem desta reunião ministerial. O esforço para combater o Crime transnacional deve envolver todos os governos à escala mundial, numa cooperação institucionalizada globalmente à escala multilateral, com a qual não podemos deixar de contar, tendo em conta a nossa pequena dimensão.


O nosso penhorado reconhecimento pela vossa paciente atenção, augurando que as resoluções saídas desta Conferência possam contribuir efectivamente para a construção de um novo cenário mundial de combate ao flagelo da droga. 

Muito Obrigada.