quinta-feira, 9 de abril de 2015

OPINIÃO: A GUINÉ-BISSAU NÃO É UM NARCO-ESTADO, MAS SIM VITIMA DE TRÁFICO ILEGAL DE ESTUPEFACIENTES PROVENIENTES DA AMÉRICA LATINA







Ismael Sadilú Sanhá
Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa
O tráfico de cocaína para os EUA tem diminuído muito devido ao forte dispositivo de segurança nas fronteiras dos EUA com os seus vizinhos da América Latina, que visa principalmente estancar a entrada de drogas no seu território. Apesar de fortes críticas às diligências tomadas pelas autoridades dos EUA em controlar drogas provenientes das zonas fronteiriças, foram construídas vedações e não só também foram aplicados métodos repressivos que violam flagrantemente os direitos humanos, houve uma redução considerável de consumo de cocaína. Para fazer transportar as drogas, por sua vez, os narcotraficantes têm procurado as rotas de tráfico mais viáveis e fáceis. Neste contexto, a África serviria do elo da ligação entre a América Latina e Europa, para o abastecimento do maior mercado de consumo de estupefacientes. Esta prática vem criando inúmeros problemas para os países africanos e está a contribuir ainda mais para o aumento da violência que o tráfico, também é susceptível de criar facções e bandos armados que operam no país, em função dos interesses alheios à maioria das pessoas colectivas.   

Há que atender que essa mudança estratégica por parte de traficantes prende-se em muito com a fragilidade de alguns Estados africanos, nomeadamente a Guiné-Bissau, onde as autoridades não conseguem, por mais que tentem, fazer parar este pernicioso fenómeno devido aos problemas graves que o permeia. 
O tráfico de estupefacientes provenientes da América Latina, com destino à Europa, com passagem pela África Ocidental tem sido bem-sucedido, devido não só à fragilidade de muitos Estados, como também à corrupção generalizada, à incapacidade no controlo das fronteiras e, por último, aos parcos meios materiais e humanos para combate ao crime organizado.
Daí que há toda a necessidade dos atores regionais, UE, EUA e autoridades de segurança africanas de congregarem os esforços no sentido de reforçar as estratégias no combate ao problema de trafico de estupefacientes. 

Pode-se constatar que na Guiné-Bissau não se produzem drogas. Sendo a RGB um dos países mais conturbado nos últimos tempos da África Ocidental, com a fraca capacidade humana e material para controlar as suas fronteiras e combater práticas ilícitas, os traficantes fazem transportar drogas através do território da RGB com o destino à Europa. Muito se tem falado do tráfico de drogas na Guiné-Bissau, mas a comunidade internacional olvidou de que o país está sendo vítima de aproveitamento do estado em que se encontra para materialização de tal prática. Mesmo os Estados europeus que disponham de capacidades técnicas e humanas têm tido enormes dificuldades em controlar os seus territórios, e as drogas penetram nas suas fronteiras. Por isso, a contribuição da comunidade internacional para combate e controlo efectivo do tráfico de drogas para Guiné-Bissau é crucial. Os países destinatários devem redobrar esforços e trabalhar afincadamente em estreita colaboração com os Estados desprovidos de meios para estancar este pernicioso flagelo, que tem como objectivo destruir a sociedade, sobretudo as famílias e a juventude, através do consumo.