Francisca
Van Dunem será a próxima ministra da Justiça. Uma angolana que se tornou
portuguesa depois de 1977. É uma das surpresas do Governo liderado por António
Costa
Francisca
Van Dunem é um nome de topo entre os magistrados portugueses.
Procuradora-geral-adjunta, que dirige atualmente a procuradoria-geral distrital
de Lisboa, é conhecida pelo seu espírito reservado. Será a primeira magistrada
a assumir funções ministeriais depois de Laborinho Lúcio, nos anos oitenta.
Francisca,
com 60 anos completados a 5 de novembro, nasceu em Luanda, pertencendo às
famílias mais conceituadas de Angola, presentes em qualquer Governo deste país:
Vieira Dias, pelo lado da mãe, Van Dunem pelo do pai.
Todavia, nem
sempre a sua relação com Angola foi fácil. O seu irmão mais velho, José Van
Dunem, e a cunhada, Zita Valles, membros ativos do golpe de estado de 27 de
maio de 1977, foram mortos na repressão que lhe sucedeu. Fraccionismo foi o
nome dado ao movimento, liderado pelo membro do Bureau Político do MPLA, Nito
Alves, em oposição a Agostinho Neto.
O golpe
apanha Francisca em Lisboa, a estudar, mas foi ela que criou o sobrinho Che. Só
muitos anos depois voltaria a Angola.
Francisca só
foi para Lisboa aos 18 anos, para tirar o curso de Direito. Logo depois, em
1979, entra na carreira da magistratura, onde foi progredindo, tendo sido
nomeada procuradora-geral-adjunta em 2007. Estaria prestes a ser promovida a
conselheira.
É casada com
o advogado e professor catedrático Eduardo Paz Ferreira.
Em 2001, Van
Dunem escreveu: “Nenhum facto na vida me deu a dimensão da violência da
discriminação racial como o estupor com que os meus filhos, cada um a seu
tempo, antes de terem completado os três anos, chegaram da escola e, entre o
amargurado e o atónito, me interpelaram sobre a razão porque a diferença da sua
condição racial legitimava outros a amesquinhá-los e a maltratá-los”.
20 anos
separam os dois rapazes, mas passaram exatamente pelo mesmo: “Eles nunca se
tinham apercebido de nada, porque quer eu, quer o pai, convivemos com pessoas
das mais variadas raças e etnias. E de repente na escola percebem: sou
diferente. E esta diferença pode permitir que me apouquem, que me diminuam.
Chegam a casa a chorar e dizem: uns meninos disseram que não queriam brincar
comigo porque sou preto. Os dois passaram pelo mesmo, nisso não houve
evolução”.
Resolveu o
assunto com a sabedoria possível, “explicando ao José que nada legitimava que o
tratassem mal. E que ele nunca se devia sentir mal quando alguém chamasse a
atenção para a diferença dele. E que sobretudo devia reagir com alguma
agressividade. Sugeri que gritasse, uma coisa que vocês dizem que eu nunca
faço. Se for preciso gritar, grita José. Mas há uma coisa que fazes sempre,
havendo um incidente destes tu reportas à professora e à direção da escola”.
Desta vez o tom de voz alterou-se.
São já 20 os
nomes confirmados no executivo que António Costa vai apresentar a Cavaco Silva,
apurou a SIC. Saiba quem vão ser os 17 ministros e três dos secretários de
Estado mais importantes no executivo. Com algumas supresas, como a magistrada
Francisca Van Dunem na pasta da Justiça.
Ministro
Adjunto - Eduardo Cabrita
Ministro das
Finanças - Mário Centeno
Ministro da
Economia - Manuel Caldeira Cabral
Ministro dos
Negócios Estrangeiros - Augusto Santos Silva
Ministro do
Planeamento e Infraestruturas - Pedro Marques
Ministro da
Presidência e da Modernização Administrativa - Maria Manuel Leitão Marques
Ministro da
Segurança Social - Vieira da Silva
Ministro da
Saúde - Adalberto Fernandes
Ministro da
Educação - Tiago Brandão Rodrigues
Ministro da
Inovação, Ciência e Ensino Superior - Manuel Heitor
Ministro da
Agricultura - Capoulas Santos
Ministro do
Mar e Pescas - Ana Paula Vitorino
Ministro da
Justiça - Francisca Van Dunem
Ministro da
Cultura - João Soares
Ministro da
Defesa - Azeredo Lopes
Ministro da
Administração Interna - Constança Urbano de Sousa
Ministro do
Ambiente - João Matos Fernandes
Secretário
de Estado dos Assuntos Parlamentares - Pedro Nuno Santos
Secretária
de Estado Adjunta do Primeiro-ministro - Mariana Vieira da Silva
Secretária
de Estado dos Assuntos Europeus - Margarida Marques