“É claro que
quando Jesus nos chama não nos canoniza. Continuamos a ser os mesmos
pecadores”. Foi neste tom que o Papa se dirigiu a um grupo grande de padres,
religiosos e religiosas com os quais se encontrou no Quénia.
Deixando de
lado o discurso que tinha preparado, Francisco começou por pedir desculpa por
não se poder dirigir aos presentes em inglês e explicou que falaria em espanhol,
com tradução simultânea.
O Papa
referiu que há pessoas que quando se sentem chamadas por Deus querem procurar
um caminho mais fácil de o seguir. “Seguir Jesus no sacerdócio ou na vida
consagrada implica passar pela porta, que é Cristo. Há alguns que querem entrar
pela janela, mas isso não serve. Se alguém tem um companheiro ou companheira
que entrou pela janela, abrace-o mas diga-lhe que é melhor que vá servir o
Senhor noutro lado, porque nunca vai concluir uma obra que não começou pela
porta que é Jesus”, disse Francisco.
Grande parte
do resto do discurso foi dedicado a sublinhar a importância do serviço e da
humildade das pessoas que têm vocação religiosa. Humildade para reconhecer que
o chamamento não equivale a uma canonização, como referiu o Papa e para colocar
os olhos nos exemplos dos apóstolos. “Lembram-se de quando Tiago chorou? E
quando chorou João? Não. E quando chorou algum dos outros? Não. Apenas um
chorou, segundo o Evangelho, aquele que percebeu que era pecador, tão pecador
que traiu o Senhor. Quando o percebeu chorou. Depois Jesus fê-lo Papa. Quem
entende Jesus? É um mistério. Nunca deixem de chorar.”
Este choro –
o dom das lágrimas, como o Papa lhe costuma chamar – deve ser universal.
“Quando um padre, religioso ou religiosa tem lágrimas secas, algo se passa.
Chorar pela própria infidelidade; pelo mundo; pelos descartados; os
abandonados; os bebés assassinados; pelas coisas que não entendemos; chorar
quando nos perguntam: Porquê? Nenhum de nós tem todas as respostas às
perguntas.”
O pior que
pode acontecer a um religioso, diz o Papa, é o pecado da indiferença. “Um
pecado muito grave, que Deus detesta, que o leva a vomitar, o pecado da
tibieza”.
Francisco
recordou também uma história pessoal para falar da importância da noção de
serviço. “Há cerca de um ano, num encontro de sacerdotes, cada dia havia um
turno de sacerdotes que tinham de servir à mesa. Alguns queixaram-se. ‘Não, nós
temos de ser servidos. Pagámos para sermos servidos’. Por favor, nunca deixem
isso acontecer na Igreja. Sirvam, não deixem ser servidos.”
Com um
discurso pontuado por muitas piadas e risos, Francisco mostrou-se muito à
vontade com o seu ambiente e deixou encantados os padres, religiosos e
religiosas encantados com as suas palavras, deixando para o final um forte
agradecimento a todos os que dedicam a sua vida a servir os outros.