Bissau, 02 Mar 16 (ANG) – A Presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas à Saúde da Mulher e Criança (CNAPN) promete implementar este ano atividades de reforço de capacidades para mulheres guineenses nos domínios da alfabetização e atividades geradoras de rendimentos para a sua independência econômica.
Numa recente entrevista à RDP/África, Fatumata Djau Baldé disse que a medida permitirá que as mulheres façam as suas atividades econômicas e tenham meios de subsistência nos seus lares, não dependendo na sua totalidade dos seus maridos.
A presidente do CNAPN reconheceu que ainda há muito trabalho a fazer neste domínio, apesar dos progressos já conseguidos, por se tratar de práticas seculares que não são fáceis de abandonar.
“As dificuldades são precisamente das mulheres que não têm poder de decisão e até querem tomar decisões mas não querem ir contra a vontade dos maridos por serem estes os senhorios das casas , e quem decide por tudo dentro das famílias”, explicou.
Fatumata Djau Baldé enalteceu os trabalhos já realizados pelo CNAPN no que diz respeito ao fanado da mulher, que outrora era considerada tabu, mas que agora é debatido em todas as localidades do país.
“Esta prática que na Guiné-Bissau é sustentada como uma recomendação corânica, hoje em dia é debatida dentro das mesquitas. É uma prática tida como parte da identidade cultural das comunidades que a praticam e hoje em dia são as próprias comunidades que estão a declarar o seu abandono”, explicou.
Djau Baldé afirmou que mesmo dentro da Assembleia Nacional Popular (ANP) não se podia falar desse fenómeno, mas foram os próprios deputados que vieram votar com 94 por cento dos votos a favor a lei que criminaliza a prática da mutilação genital feminina.
Segundo aquela responsável esta prática com prevalência mais na zona Leste do país, concretamente nas regiões de Bafatá e Gabú reduziu-se consideravelmente com o apoio das autoridades daquelas zonas que estão de m
ão dadas com o CNAPN no combate ao fenómeno , tendo as ex-fanatecas declarado publicamente o abandono da excisao feminina.
“Tabancas como Bidjini e mais outras na zona leste que outrora eram de tradição e de conservação das culturas islamizadas do nosso país, hoje em dia estão a declarar publicamente o abandono dessa prática nefasta”, contou.
A excisao feminina enfrentou vàrias tentativas de aboliçäo e uma delas tem sido o chamado “Fanado alternativo”.
Segundo Djau Balde essa inciativa foi deixada de lado porque as fanatecas que receberam compensacoes financeiras para em contrapartida abandonarem a excisao não honraram os compromissos.
Aplicaram o dinheiro recebido em outras actividades e continuaram a praticar a excisao. Djau Balde contou ainda que no quadro dessa iniciativa constatou-se que muitos elementos da comunidade , que não pertencem à familias que tradicionamente se dedicam a excisäo passaram a praticar o fenomeno para poder beneficiar dos fundos através dos quais se procurava abolir a excisäo.
“Em vez de a pratica diminuir aumentou nesse periodo”, recordou Fatumata.
Esta activista dos direitos humanos disse que hoje em dia nos grandes encontros religiosos, mesmo sem a presença do CNAPN, faz se sensibilizacao às pessoas para o abandono desta prática nefasta a saúde feminina.
A prática de excisão feminina foi proibida por lei mas ultimamente um grupo de crentes muçulmanos tem estado a lutar contra aplicação dessa lei com promoções de campanhas de sensibilização das autoridades inclusive o parlamento para que a proibição seja anulada.
Segundo os Inquéritos aos Indicadores Múltiplos (MICS), promovido pelo Governo e Nações Unidas, em 2010 a excisão feminina afectava metade (50 por cento) das mulheres da Guiné-Bissau com idades entre os 15 e os 49 anos, mas em 2014 esse nível desceu para 45 por cento.