Lusa
Três
cidadãos da Guiné-Bissau estão detidos por suspeita de terem sido treinados
pela Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI), naquele que é o primeiro caso do
género no país, disseram diferentes fontes judiciais à Lusa.
Os homens
com idades entre os 25 e os 34 anos, sem profissão conhecida, foram detidos
entre janeiro e fevereiro pela Polícia Judiciária (PJ) guineense por terem
participado na fuga de um mauritano, condenado por terrorismo, que cumpria
prisão perpétua.
Durante os
interrogatórios, terão relatado que foram treinados em 2009 numa base da AQMI
em Kidal, norte do Mali, disse à Lusa fonte da PJ.
A
Guiné-Bissau parecia estar imune à presença de grupos extremistas islâmicos que
já se movimentam pela África Ocidental, mas a versão contada pelos detidos
levanta, pelo menos, duas suspeitas, explica a mesma fonte da PJ.
Estes podem
ter sido apenas treinados para ir combater noutro local pela causa `jihadista`,
tal como o são pessoas de outras nacionalidades - um dos detidos terá contado
que esperava que o chamassem para ser enviado para a Líbia - ou poderiam servir
para angariar mais membros na Guiné-Bissau.
A
investigação ainda decorre e os locais que eram frequentados pelos três homens
estão sob a mira das autoridades que os consideram fundamentalistas islâmicos,
sem interesse direto em luxos ou fontes de rendimento.
Ainda de
acordo com os relatos dos próprios, todos terão sido convidados a juntar-se à
causa `jihadista` pela mesma pessoa, que conheceram através de um grupo
religioso islâmico de que os três faziam parte.
Cada um
seguiu viagem com esse recrutador até Tambacounda, sudoeste do Senegal onde, um
a um, em diferentes ocasiões, se juntaram a outros elementos para uma viagem em
viaturas preparadas para atravessar o deserto.
O recrutador
levava-os até meio do caminho, sendo depois intercetados por elementos da AQMI
para receberem treino durante dois a seis meses em Kidal e depois regressarem
ao país de origem, já com os nomes que os identificam perante a organização.
Dois destes
alegados terroristas guineenses foram detidos em janeiro, quando davam guarida
no leste da Guiné-Bissau a Saleck Ould Cheikh, um `jihadista` que tinha
escapado da prisão na Mauritânia.
Treinado
pela AQMI, fugiu às autoridades mauritanas a 31 de dezembro: conseguiu
atravessar todo o Senegal e encontrou refúgio na Guiné-Bissau, depois de
atravessar a fronteira na zona de Pirada, no leste, acredita a PJ com base nos
relatos dos detidos.
Em 2011,
Saleck fora condenado à morte na Mauritânia, por "atos terroristas",
depois de liderar uma operação da Al Qaida para tentar matar o presidente
Mohamed Ould Abdel Aziz com um carro-bomba - e em que teve como cúmplice um
nacional da Guiné-Conacri, Yusuf Galissa, que cumpre prisão perpétua em
Nouakchott.
De fuga em
fuga, a 19 de janeiro, o `jihadista` fintou uma operação da PJ guineense na
zona de Bafatá, centro do país, quando alegadamente já fazia contactos para
encontrar um esconderijo numa aldeia remota.
Foi
perseguido pela polícia até ser detido por guardas da Guiné-Conacri, poucos
metros depois de atravessar de mota, com a ajuda de cúmplices, a fronteira na
zona sul, em Kandiafara.
Dos três
guineenses que terão sido treinados no Mali, um ficou logo na altura detido em
Bissau, outro em Conacri (onde permanece a aguardar transferência) e um
terceiro elemento foi detido a 19 de fevereiro.
Todos
aguardam para audição por um juiz de instrução criminal que decretará as
respetivas medidas de coação.