POR: Marcelo
Cunha Bueno, educador e diretor pedagógico da escola Estilo de Aprender, em São
Paulo/Brasil
Para mim,
ser professor é uma escolha.
Pensar nessa
figura, nesse habitante da escola, é pensar em alguém que escolheu dedicar seus
passos aos outros. Um habitante que se confunde com a própria escola, que se
torna um espaço de atravessamento dos outros, dos saberes, das culturas. Esse
habitante é o parceiro, o companheiro, aquele que desafia, que frustra, que
apresenta caminhos.
Aprendi a
ser professor sendo professor. Tornei-me professor quando percebi que ser
professor não é professar linhas, métodos ou didáticas. Ser professor é
abrir-se ao outro, às relações. Ser professor é ter uma disposição, uma
disponibilidade para ser atravessado pelo mundo. É deixar de ser e ser um outro
a todo instante.
Aprendi a
ser professor com olhares, com gestos, com as palavras de meus estudantes.
Sempre soube que ser professor era colocar-se entre um ensino e uma
aprendizagem... um lugar onde a educação é relação... daqueles que se dispõem a
atravessá-la. Um espaço de “ensinagem”, da união entre ensino e aprendizagem. Nesse
espaço, o professor é estudante, o estudante é professor, a escola é a
afirmação de um espaço relacional.
Gosto de
pensar e conviver com um professor que provoca encantamentos, mas que também se
deixa encantar por seus estudantes. Encantamentos pelos temas de trabalho, por
seu estudo, pelas crianças, por suas escolhas. Alguém que se dispõe aos
encantamentos. Um encantamento que movimenta, provoca, desloca, faz com que
queiramos sempre mais.
Para ser
esse habitante da escola, é preciso provocar e ser provocado. É essa dinâmica,
esse jogo, essa relação, que transforma o professor em estudante!
Professor-estudante que se joga nas brincadeiras, nas relações, que dá limites,
fronteiras, espaços, que cuida de seu grupo, que cuida de cada um que convive com
ele. Alguém que se joga na cultura, enriquece linguagens, compromete-se com as
suas escolhas.
Professor-estudante
precisa de estudo. Tem de se jogar nas letras e livros, nas imagens e sons, nas
ideias e pensamentos, nas conversas e discussões. Ler, escrever, discutir,
escutar música, ver filmes, saber e sentir as coisas que passam pelo mundo
afora... São condições para a ampliação das linguagens que se constroem dentro
do espaço escolar.
Pensar no
que representa ser professor é pensar na minha vida, com toda a intensidade,
todo o afeto e todo o carinho que sinto por ser esse habitante da educação.
Quero contar uma história vivida... atemporal, sentimental e que expressa a
costura entre ser professor e estudante... das coisas simples e marcantes que essa
relação pode nos provocar, transformando toda uma vida. Ainda bem que eu vivi e
vivo ser um professor!