POR: RUTH
MANUS/SER PROFESSOR É UM LANCE DE AMOR
Eu sempre
quis ser professora.
Tornei-me
advogada pelos acasos da vida. Blogueira então, nem se fale. Mas professora foi
por sonho, por meta e, ouso dizer, alguma vocação.
Nesse
caminho que venho trilhando constatei que existe uma profunda diferença entre
dar aula e ser professor.
Dar aula é
muito bom. É querer compartilhar conhecimento, propagar a informação. Dar aula
exige esforço, dedicação, preparo.
Mas existe
uma imensa distância entre “dar aula” e ser professor. Porque dar aula é uma
atividade, mas ser professor é muito mais do que isso.
Ser
professor é, muito antes de ser uma profissão, uma das formas mais genuínas do
amor.
Como já
dizia o grande mestre Paulo Freire, “eu nunca poderia pensar em educação sem
amor. É por isso que me considero um educador: acima de tudo porque sinto amor.”
Porque
professor vai além. Além das tarefas estabelecidas em contrato, além das horas
pagas no holerite, além da ideia de que aquilo é apenas um meio para se ganhar
a vida.
Professor
quer saber o nome, quer saber quem é quem, quer saber as histórias, os origens,
os rumos pretendidos.
Professor
está na chuva para se molhar, para se arriscar diariamente. Para sofrer com as
derrotas e vibrar com as vitórias dos alunos. Para corrigir provas como quem
assiste a um jogo de futebol, se lamentando quando um craque chuta a bola no
travessão. Desacreditando quando uma perna de pau acerta a bola no ângulo.
Professor se
envolve, mesmo quando tenta evitar.
Professor se
perde no cronograma. Não está lá só para cumprir horário e currículo. Está lá
para parar a cada dúvida, para ensinar não só a matéria, mas ensinar o melhor
do pouco- ou muito- que sabe sobre a vida.
Professor
acaba por viver muitas vidas além da sua. Vivencia o crescimento, os
obstáculos, as crises, os começos de namoro, as brigas entre amigos, problemas
de casa, a conjuntivite alheia, as angústias, os caminhos.
Professor
não tem medo de se expor, de se mostrar humano e vulnerável. Não tem medo de
roupa preta suja de giz, de pilhas de livros para carregar, da odisseia do
fechamento dos diários no fim do ano, nem das provas que parecem dar cria na
calada da noite.
Mas tem medo
de errar. Ah, se tem. Mas continua, assim mesmo. Continua porque existe algo
bem maior por trás desse medo. Algo que nos torna um tanto quanto imune às
adversidades, salários brincalhões, poucas horas de sono, pendências
infindáveis, conversas paralelas e ao eterno risco que é tentar ensinar.
Só o que sei
é que, no fim das contas, ser professor é um lance de amor. Às vezes é sofrido.
Às vezes é maçante. Como todo amor. Mas é uma dessas paixões avassaladoras que
vicia, e que quem sente, já não consegue ver sentido em viver sem.
Que esse 17
de Fevereiro, mais do que uma data para receber homenagens gostosas ou
presentes queridos, seja um dia para lembrarmos o porquê de termos escolhido
essa carreira (na verdade, não sei se escolhemos ser professores ou se a vida e
a alma já escolhem por nós).
Mas que hoje
seja o dia para lembrarmos da sorte que é vivenciar uma verdadeira vocação,
poder acreditar no que se faz a cada dia e, acima de tudo, lembrar daquele meio
sorriso iluminado que surge no rosto dos alunos quando se dão conta de que aprenderam
algo. Não há melhor explicação: É UM LANCE DE AMOR MESMO.