“A saúde de Luaty Beirão pode degradar-se de repente”, as palavras são
da mulher do ativista em greve de fome há 33 dias. Em declarações à Euronews,
Mónica Almeida referiu que, segundo o médico, a alteração da saúde do marido
pode ocorrer de repente e tornar-se irreversível. O jovem ativista sentiu
dormência em todos os membros do corpo na quinta-feira, mas para já encontra-se
bem, estável, numa clinica privada de Luada, onde está detido.
No plano judicial,
o Tribunal Supremo está para decidir, há 22 dias, um pedido de ‘habeas corpus’
para a libertação dos 15 jovens ativistas (incluindo Luaty), acusados de
prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José
Eduardo dos Santos.
O
advogado Luís Nascimento, que juntamente com o colega Walter Tondela defende 13
dos 17 arguidos no processo – duas jovens estão em liberdade provisória -,
recordou que se trata do segundo ‘Habeas Corpus’ (o primeiro foi indeferido),
recurso que em Angola, ao contrário de outros países, não tem tempo
limite de decisão.
Em causa está uma
operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando os ativistas
angolanos foram detidos em Luanda, durante o que a acusação diz ser a sexta
reunião semanal de um curso de formação de ativistas, para promover a
destituição do atual regime.
Ainda segundo o
Ministério Público, reuniam-se aos sábados para discutir as estratégias e
ensinamentos da obra “Ferramentas para destruir o ditador e evitar uma nova
ditadura, filosofia da libertação para Angola”, do professor universitário
Domingos da Cruz – um dos arguidos detidos -, adaptado do livro “From
Dictatorship to Democracy”, do norte-americano Gene Sharp.
Equipamento de fotografia e infomático confiscado
Durante a fase
inicial do processo, as autoridades apreenderam à mulher de Luaty, Monica
Almeida, profissional de fotografia, todo equipamento em casa – cameras
fotográficas, lentes, computadores e discos rigidos – avaliado em cerca de 20
mil euros, para além de todas as suas fotografias. Nenhum material foi ainda
devolvido.
Paulo de Morais acredita estarmos
perante o prenúncio do desmoronar do regime
Num artigo
publicado num jornal angolano, o candidato presidencial português Paulo de
Morais, afirmou que a reação desmedida do Governo angolano contra os jovens
ativistas é um prenúncio do desmoronar do regime do Presidente José Eduardo dos
Santos. “Um regime assente numa estrutura de poder com décadas, dispondo de
Forças Armadas das mais bem equipadas do mundo, revela medo perante um pequeno
grupo de jovens músicos e ativistas, que acusa de conspirar para derrubar o
Governo?!”, questiona Paulo de Morais no artigo “Há sempre alguém que resiste”,
publicado no jornal Folha 8.
As movimentações
de personalidades políticas sucedem-se, o embaixador de Portugal em Luanda,
João da Câmara, reuniu-se na quinta-feira com Luaty Beirão, mas saiu da clínica
sem prestar declarações. O encontro durou cerca de 20 minutos.