O acordo entre
o PS e restantes forças de esquerda será conhecido na próxima semana no mesmo momento em que
o Parlamento discute o programa de Governo apresentado por Passos Coelho. Será
um acordo de “legislatura” e não apenas de “investidura”, garante o PS. Na
coligação PSD/CDS, o chumbo do programa de Governo já é quase dado como
inevitável, mas a permanência em gestão durante meses também é dada como quase
impossível.
O programa de
Governo, que deverá ser entregue na quinta ou sexta-feira da
próxima semana, será debatido no final do prazo previsto por lei que é de
10 dias após a tomada de posse. A marcação foi feita numa tensa conferência de
líderes em que a maioria de esquerda travou a realização de qualquer sessão
plenária até ao debate do programa de Governo, o que para a coligação PSD/CDS
significa que o Parlamento pode vir a estar parado durante semanas.
É que, se o
programa de Governo vier a ser chumbado, como anunciam os partidos de esquerda,
pode dar lugar à formação de um novo Executivo, o que demora ainda algumas
semanas. Na coligação PSD/CDS, o chumbo do Governo apresentado por Passos
Coelho é quase um dado adquirido. Nesse cenário, a preferência vai para a existência
de um governo à esquerda. Ficar em gestão, com uma maioria de esquerda unida, e
por vários meses, é um cenário que a coligação não deseja.
Parlamento
parado semanas?
O PSD e o CDS pretendiam realizar uma ou mais sessões plenárias para discutir e votar um projecto em que se reafirma o compromisso de Portugal com as regras da zona euro e rejeita a reestruturação unilateral das dívidas públicas nacionais. A intenção era transportar para o Parlamento português as divergências assumidas pelo PS, PCP e BE no Parlamento Europeu, esta quarta-feira, a propósito do Orçamento da União Europeia.
O PSD e o CDS pretendiam realizar uma ou mais sessões plenárias para discutir e votar um projecto em que se reafirma o compromisso de Portugal com as regras da zona euro e rejeita a reestruturação unilateral das dívidas públicas nacionais. A intenção era transportar para o Parlamento português as divergências assumidas pelo PS, PCP e BE no Parlamento Europeu, esta quarta-feira, a propósito do Orçamento da União Europeia.
PS, BE e PCP
opuseram-se à realização de plenários até ao debate do programa de Governo por
não ser tradição parlamentar e recorrendo ao regimento que dá prioridade
ao programa. PSD e CDS contestaram mas aceitaram a decisão tomada pelo
Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. No final da conferência
de líderes, as declarações foram azedas de um lado e do outro.
“Infelizmente estes
quatro partidos juntaram-se numa posição cínica para bloquear o arranque normal
do Parlamento, protelando sabe-se lá para quando início dos trabalhos
parlamentares. Curioso é que alguns destes partidos invocassem, vejam bem, a
tradição e a prática que se viveu noutras legislaturas”, afirmou Luís
Montenegro, líder da bancada do PSD, referindo-se à rejeição das forças de
esquerda em aceitar outras tradições, como o partido mais votado eleger o
presidente da Assembleia da República ou o líder da força mais votada ser
nomeado primeiro-ministro. Para Nuno Magalhães, líder da bancada do CDS, a
posição das bancadas da esquerda é “surpreendente e lamentável”.
À esquerda, a
deputada do PS Ana Catarina Mendes acusou o PSD e o CDS de quererem fazer uma
“inversão” dos tempos e lembrou que o regimento prevê “prioridade” à discussão
do programa de Governo.
O líder parlamentar
do BE, Pedro Filipe Soares, insistiu no argumento da “perda de tempo” provocada
pelas decisões do Presidente da República, do Governo e do PSD/CDS e disse ter
julgado haver intenção de “celeridade” na marcação do programa de Governo. “O
normal é que exista como primeira sessão o debate do programa de Governo. O que
não é normal é que o Governo demore tanto tempo a apresentar o programa”,
afirmou o líder da bancada do BE, recusando haver “qualquer bloqueio” por parte
da esquerda.
Se para o BE há uma
perda de tempo, para o PCP a decisão de Cavaco Silva em indigitar Passos Coelho
é “um factor de instabilidade”. O líder da bancada comunista João Oliveira
criticou o timing “tardio”
do Governo para a discussão do programa e considerou ter prioridade
relativamente a um projecto de resolução sobre os compromissos internacionais
de Portugal.
No histórico do
funcionamento da Assembleia, só na terceira legislatura, no princípio dos anos
1980, se realizou um plenário antes do debate do programa de Governo, segundo o
porta-voz da conferência de líderes, Duarte Pacheco. Esse foi outro dos
argumentos usados pelos partidos de esquerda – e aceites por Ferro Rodrigues –
para inviabilizar a realização de um plenário na próxima semana.
Fonte: Público